quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Planeta Terra chamando... Planeta Terra chamando... Essa é mais uma edição do Diário de Bordo de...

Um amontoado de gente no salão vermelho. Sotaques de todos os tipos e para todos os gostos. Um misto de Bahia com João Pessoa no melhor estilo carioca. Pessoas de diversos lugares aguardavam uma revista. A ansiedade não deixava os jovens calarem e os homens de preto tinham que esganiçar para serem ouvidos. Passado o tumulto inicial fui recebida com um copo de tequila. Vazio. Três horas depois senti o movimento. Zarpamos com destino a Ilha mais Bela de todas. Instalações dignas de Titanic para jovens que pulavam ao som de Eva. A noite havia caído e surgiam fantasias por todos os lados. O show havia começado e nem sentia o balanço do mar de tanta agitação. Um dos três mosqueteiros vem em minha direção. Em punho um copo de vodka com energético, a esgrima havia ficado presa na revista. Uma policial que parecia ter saído da vitrine de um sex-shop fingia prender um cow-boy que nunca deve ter laçado sequer um bezerro morto.
Vestimentas inusitadas, muita alegria e de repente Adão desce e canta em meio a toda aquela gente. Quatro horas e meia depois ele me recebe. Óculos escuros, camisa azul, calça jeans, dedos a mostra. Com a fala mansa responde rapidamente a todas as minhas perguntas. Fico satisfeita e volto para dançar. Ninguém havia arredado os pés de lá. O som se faz ouvir a léguas de distância forte e alto em meio aquele mar negro. Amanhece. Uns caídos em meio à passagem, outros parecem querer continuar, e eu vou à busca do café-da-manhã. No restaurante item obrigatório: óculos-escuros. O espelho da alma tinha que ser escondido após doze horas ininterruptas de som e dança. Pela tarde o sol se esconde junto aos jovens para descansar e esperar a noite. Quando ela chega me sinto na Bahia, apesar de irmos à direção do Rio em pleno dezembro. Ao som de Jamil sinto como aquelas duas horas durassem mil e uma noites, e quando acaba o som a chuva continua a molhar meu corpo quente que parece não se cansar. Muita agitação, bagunça, azaração e beijo na boca. Eu observo tudo, analiso, às vezes não entendo. Insisto. Melhor ficar sem entender. No mar a saudade parece ser maior. A liberdade é uma sensação estranha. Boa, mas estranha. Algumas pessoas não a controlam, abusam não a deixam passar e voar como uma borboleta. A querem agarrar pelas asas e prender. De nada adianta. Ela encontra a saída. O sol dá a graça, o dia promete ser quente. A batida é pesada. Estamos no Rio de Janeiro e o funk impera. Tchutchucas rebolam no palco ao som do tigrão. Marombeiros passam as mãos pelo tórax nu como se quisessem ensinar o caminho da felicidade. Elas gritam. Eu assusto. E quando olho para o lado enxergo o mais bizarro espetáculo já visto em toda a minha vida. Uma potranca com curvas dignas da bandeirantes de biquíni asa-delta-fio-dental com um salto de quinze centímetros rebolando como se fosse rainha de bateria de alguma escola de samba de segundo grupo. Mas Deus é brasileiro e em alguns minutos o que era sensual passa a ser motivo de chacota. Um dos popozudos a imita como se fosse um espelho. Ele sobe, ele desce, e dá uma rodadinha e... Opa! Quase cai. Volta a dançar. Nós caímos... Na risada. Ela se intimida com toda sua desenvoltura e bom desempenho. No palco, o show continua. No deck um bate-bundinha que mais parece ritual de acasalamento.
Escurece. Após um banho merecido eu deixo acontecer naturalmente. Eles cantam. Eu vibro. “Como eu queria pelo menos te ver de longe, como eu queria pelo menos te ter por perto” A música continua, escuto os estalos dos beijos. Eles incitam os românticos. E os pegadores também. Tudo parece mais bonito no mar. E apaixonante.
Posso confessar que fiquei espantada com tamanha educação, bondade e simpatia. De inimigos eles não têm nada. Saio do camarim feliz. Nosso Senhor do Bonfim do meu lado esquerdo assiste a tudo. Bahia que não me sai do pensamento. Todas aquelas músicas em ritmo de carnaval somem e um forte bate-estaca assume o lugar, retumbando em meu peito. Pela manhã terra à vista! Eu me despeço de tudo. Da liberdade, da Bahia, do mar, dos amigos inimigos. Vou me deitar. E acordo com a melhor sensação do mundo: De que viver é melhor que sonhar!