quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sweet Dreams

"Doces podem salvar uma vida. Não é nenhum exagero não. Aliás, eles tinham que nascer em árvores. Principalmente os mini chicletes. A vida com certeza fica bem melhor com eles". Enquanto pensava isso, Alice colocava as bolinhas de mascar na boca. Sentada naquela cadeira, um moço a observava. Quando percebeu que alguém a fitava, olhou para os dois lados para certificar que era com ela. Ele sorriu. Ela ficou corada, abaixou o olhar, passou a mão pelo nariz, um hábito que denunciava que ela estava nervosa e respondeu ao seu sorriso. Estava em um lugar que havia jurado nunca ir. E jurou com tanta certeza que acreditou naquilo. Bem que eu disse a ela não dizer "nunca" para mais nada. Mas Alice era tão teimosa que se negava a escutar conselhos. Da maneira que subia e descia parecia até conhecer todos os cantinhos daquele lugar imenso, como a palma de sua mão. Inclinou o corpo um pouquinho para frente e olhou sorrateiramente pelo canto dos olhos, para certificar que ele ainda estava lá. Ele continuava lá e dessa vez a agraciou com uma risada. Ela voltou o corpo para trás e ficou imóvel, sem respirar. Quando era pequena e queria fingir que estava dormindo, ou quando estava brincando de pic esconde, prendia a respiração para que quem a procurasse não a encontrar. Ela acreditava ficar invisível fazendo isso. Então na tentativa dele não perceber que ela o olhava, prendeu a respiração. O jogo havia apenas começado. Ela fazia anotações e no intervalo mascava chicletes. De vez em quando olhava para baixo para certificar-se que ele ainda estava lá. Quando ele comemorava, ela olhava para o lado oposto. Isso porque ele fazia questão de virar-se para trás para ver qual era sua reação. Ela fingia escrever e esperava ele se sentar novamente. Deve fazer algum sentido. Ele ali, em um lugar que ela odeia. Ela de cara fechada mascando chicletes e colocando todos na boca como se fossem os últimos no mundo e ele sorrindo. Será que ele estava achando engraçado? Pensou ela. Não com aqueles olhos lindos. Respondeu para si. Era um costume estranho, estranho, mas engraçado. Alice fazia perguntas para ela mesma e em seguida respondia. Muitas vezes em frente ao espelho, mas como ali não havia nenhum, fingiu estar escrevendo ao fazê-las. O intervalo começou e ao vê-lo subindo Alice deu um jeito de sair dali. Escondeu-se atrás de uma daquelas camisas com emblemas horríveis. Ao voltar ao seu lugar, Alice percebeu que ele estava procurando algo. Quando ela se sentou ele virou e o jogo recomeçou. Ele olhava, ela jogava o corpo para trás e dava risada. O hino tocou e o jogo havia acabado. Ele fez sinal para ela que estava subindo. Ela começou a dar risada e se perdeu no meio da multidão. Nunca mais o viu. Pensou tê-lo visto outro dia, mas aquele não tinha o sorriso tão bonito quanto o dele. Ah, e não a olhava enquanto ela mascava chicletes.