quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sólo creo en tu sonrisa azul

Alice desceu a rua sorrindo e pensando em tudo o que aquele lugar havia feito por ela. As noites frias de neve, os dias ensolarados que terminavam com um vento gostoso.

Estava de volta ao lugar mais colorido do mundo, mas só pensava em voltar para o azul e branco daquela terra. Em seu rosto ainda estavam as marcas do frio que havia passado naquele país em que as pessoas falam enrolado. As ruas com nomes latinos não saiam da sua cabeça. "Os nomes latinos". O vermelho das flores, que decoravam as mesas de jantar, contrastava com o restaurante sombrio que ela fez questão de visitar.

Nunca andou tanto. Dormiu pouco para aproveitar cada segundo. Sabia que o coelho estava prestes a lhe buscar.

Na beira do mar, ele chegou de mansinho, como quem não quer nada. A barba mal feita, como ela gosta. Olhos cor cor de mel estavam atrás de lentes. A pele escura, como se tivesse acabado de tomar sol. Ela falando sem parar nem percebeu sua presença. Ele logo ele arranjou uma maneira de entrar na conversa. Ela, com a sutileza de quem a conhece, fez questão de mostrar que era um assunto seu. Ele deu risada e a desafiou. Ela aceitou. Logo estavam só os dois sentados no deck, como se fossem amigos de longa data. O vinho já havia feito efeito e ela estava meio tonta. Ele estendeu a mão para ajudá-la, ela negou. Levantou e ainda zonza quase caiu. Com uma mão ele a agarrou e a trouxe para perto dele. Ela agradeceu se afastando. Andaram um pouco até chegar ao hotel. Ela agradeceu a companhia e subiu as escadarias. Ele esperou a porta fechar para seguir rua abaixo. No dia seguinte, no saguão, ele estava lá. Com os olhos marejados de quem vai perder alguém. Ela com um sorriso tímido foi em direção a porta. Ele levou suas malas até o carro e calados seguiram em direção ao aeroporto. Nada falaram. Um adeus demorado junto com uma caixinha que ele colocou em seu bolso. Ela nem percebeu.

Já no avião, ao tirar o casaco, ela encontrou o embrulho. Ao abrir um sorriso estampou seu rosto e ela teve a certeza de que o logo o país colorido vai receber uma visita.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Hoje o tempo voa...


Ah, maldito Coelho! Porque ele tem que existir? Pensava Alice. Ela olhava para trás e lá estava ele! E pensar que por causa dele os dias eram mais curtos. Todos os meses pareciam fevereiro. Os anos bissextos? Esses haviam sido exterminados do calendário! Ah, se ela soubesse antes! Teria feito um bom e apetitoso Adobo de Conejo e servido à mesa de chá da Lebre de Março, apesar de ser abril. Tudo por causa dele! E ela nem aproveitou direito. Jamais pensou que aquele fim de semana entediante fosse a levar mais uma vez ao País das Maravilhas. Ela apertava os olhos com força para tentar lembrar de cada minuto que deixou escorrer pelos dedos como a areia fina daquela praia. Nem lembra do começo. Engraçado como as coisas mudam em pouco tempo. O que parecia não ter importância passa a tomar conta dos pensamentos. Acorda, dorme. Às vezes nem dorme. Mas lá estão eles. No mesmo lugar, cada vez mais presentes. Ao mesmo tempo como se nada tivesse acontecendo tudo ocorre. E ela dá uma gargalhada, depois fica sem graça. Tenta se explicar, mas é inútil. Já foi. Então ela ri mais. E seus lábios parecem tomar a forma de um arco. Seus olhos brilham. Mais do que o normal. Mas ela não pode controlar. Uma moeda por um minuto voltado atrás. Inútil. Ela não consegue. Desiste. Então adormece. Não mais de cinco minutos, não mais que um sonho, nada mais do que um fim de semana.