sábado, 5 de junho de 2010

Lá Parte I


- Mãe, onde fica aquele lugar que você falou?
- Fica longe filho. Bem longe.
- Mas dá pra chegar de carro ou tem que ir de avião?
- A viagem demora tanto que você só chega se dormir. Tem que fechar os olhos e esperar chegar.
- Mãe, nas férias nós podemos ir até lá. Eu, você, o papai, o Enzo e a Alice?
- Só se você prometer pra mim que nunca vai esquecer que eu te levei lá.
- Tá bom mãe! Eu vou tirar muitas fotos e vou contar pra todo mundo que você me levou lá. Vai ser muito divertido.
- Tenho certeza que você vai gostar.
- Eu já gosto mãe. Adoro quando você fala de lá pra mim. Lá na escola eu contei pros meus amigos e eles disseram que era tudo mentira minha.
- Ah! Por isso você veio me pedir pra te levar lá. Você acha que eu tô mentindo.
- Não mãe, eu sempre acreditei em você. Não acredito nos meninos. Eu sei que lá é de verdade. E como você diz só quem faz coisas boas pode entrar.
- Isso mesmo. E lá quando você faz uma coisa boa o arco-íris aparece. Quando eu fui, ele parecia fazer parte do céu.
- Eu nunca vi um arco-íris.
- Lá tem o tempo todo. E quando chove as gotas caem e você fica todo brilhando. Parecendo um cristal.
- E molha?
- Molha sim filho, mas não faz não frio.
- E tem mar?
- Tem! As ondas são feitas de espuma, você sai todo ensaboado.
- Que legal mãe! E pode levar prancha? Será que o Enzo me empresta a dele.
- Claro filho! E quando você cai forma outra onda pra não deixar você se machucar.
- Queria morar lá. Pode?
- Não filho, não pode não.
- Por que mãe?
- Porque senão você não cresce.
- Mas eu não quero crescer mesmo. Não quero ter que trabalhar que nem o papai. Ele fica o dia todo fora. E também, quando você cresce você morre.
- Quem disse isso filho. Não é só quando cresce que morre, pode morrer em qualquer idade.
- Mas quando cresce morre mais. Mãe, lá as pessoas morrem?
- Não filho, lá ninguém morre. Só aprende a viver melhor e mais.
- E todo mundo conhece lá?
- Todo mundo já conheceu um dia. Mas muitas pessoas esquecem de lá.
- Por que mãe?
- Porque cresceram e vivem atrás de dinheiro e coisas materias e se esquecem dos lugares e das pessoas que amam. E quando vão ver já é tarde e nem se lembram mais de nada.
- Viu mãe, é por isso que eu não quero crescer. Não quero esquecer de lá nem das pessoas que eu amo.
- Não vai filho.
- Mãe, conta a história daquele homem. Conta pra eu nunca esquecer e nunca fazer
igual.
- Conto sim filho, mas amanhã. Já é tarde e você tem que dormir.
- Jura? Jura de coração?
- Juro filho.
- De verdade? Não vai fazer que nem o homem?
- Nunca filho. Nunca.
- Então tá bom. Boa noite mãe!
- Boa noite filho!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Hoje acordei sem lembrar se vivi ou se sonhei...


Hoje sonhei com você. Andávamos de mãos dadas e sorrindo. Muito. Por entre as gôndolas me escondia como costumava fazer. Você me achava. Como sempre. Eu sorria mais. Em uma lousa daquelas do tipo “mágica” me mostrou o que havia desenhado. Eu sorri mais uma vez, e o beijei. Você me abraçou como não fazia há tempo. Velhos tempos. Bons tempos. Foi engraçado porque te senti perto. Mais perto que o comum. Parecia de verdade. Parecia real. E então acordei. Sorrindo. Lembrando dos teus olhos da cor dos meus. Cara de sono. Pele branca.. Dos teus dedos longos. Da tua voz calma. Da tua risada engraçada. Lembrei de você espalmando depois do susto. De você me pegando no colo, me jogando na cama e fazendo cócegas. Lembrei de você querendo pegar no meu pé e eu não deixando. Dos bonecos nos dedos. E tudo mais. Tudo o que me fazia feliz. Do jeito que você insistia em me fazer feliz. Lembrei de um tempo que eu não sabia que iria sentir tantas saudades. Passei o dia sorrindo. A noite caiu e deixei escapar algumas lágrimas. Choveu para esconder as saudades. E vi as gotas se misturarem ao que se passou. Depois secou. Não aqui dentro. Lá fora. Senti um arrepio que me fez lembrar que era maio, quase junho. E não sei mais onde você está. O que faz, nem quem é. Mas sei que sinto falta. E ela dói. Não sempre. Mas hoje. Não sei se amanhã vai. Mas hoje doeu. E quis tudo de volta. Não para sempre, mas por hoje. Tudo o que sei que não vou mais ter.