segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O seu nome vai na história ficar...


Sai correndo pelo corredor que mais parecia um túnel. Sabia onde encontrá-la, mesmo que não houvesse me avisado. Ela sempre estaria ali. Sentada no fundo da biblioteca mergulhada em um livro. O gênero não interessava, ela só queria saber de devorar as palavras e viajar para um mundo onde ninguém pudesse machucá-la. Um mundo em que ela era a princesa, seu príncipe a corresponderia e eles teriam um final feliz. Atrás de uma armação quadrada podia sentir seus olhos fumegantes de saber. Com a sutileza peculiar de minha pessoa, escancarei a porta. Todos olharam. Por baixo dos óculos ela levantou o olhar e com um leve gesto levou o dedo indicador para o meio dos lábios, como se pudesse pedir meu silêncio. Ainda correndo fui até ela para espiar o que lia. Com a voz baixa me disse o título e eu repeti para que ela percebesse que havia entendido. Sentei-me ao seu lado e comecei a contar minhas peripécias de criança. As esmeraldas que havia achado no alto da colina e os diamantes que encontrei em meio a terra. Ela continuou lendo. Levantei com a mesma rapidez que havia chegado. Corri até a porta, dessa vez deixando-a aberta como se quisesse que ela me seguisse. Mas ela não o fez. Nunca fazia. Suas brincadeiras eram diferentes das minhas. Um dicionário a divertia mais que mil piadas contadas incessantemente. Cabra-cega não era aventura para ela. Isso encontrava nas enciclopédias. Princesas e Bruxas faziam parte de seu cotidiano. Ela as escutava e derrotava-as. Como Fada Madrinha conhecia a vida de cada uma delas. Com o passar dos anos passou a criar Ninfas e Príncipes. Suas histórias sempre tinham um final feliz. Eles a agradeciam presenteando-lhe com força e bravura para os momentos difíceis, doçura e sinceridade para lidar com os seus. E assim ela cresceu. Não muito, mas o bastante para virar mulher. Uma linda mulher. Os cabelos era o que tinha de maior. Como Rapunzel. As tranças sempre prontas para ajudar alguém subir em sua torre. A pele alva fazia lembrar Branca de Neve. Sempre rodeada por seus anões que mais pareciam gigantes. Sua bondade os encantava. Como Bela Adormecida, recebeu os doze presentes mágicos, mas diferente de Bela o décimo terceiro não foi uma maldição, mas a benção de encontrar seu príncipe em meio aos fios. Não de teares, mas de aparelhos eletrônicos. Vi Cinderela algumas vezes em seu olhar, quando a madrasta má a fazia chorar. Mas a sorte sempre esteve a seu lado, e diferente da Gata Borralheira tinha duas irmãs que estavam sempre prontas a ajudá-la a resolver seus problemas. Derrotou todos os dragões e magos que apareciam em sua vida. Os sapos que beijava relutavam a virar príncipes. Com a chegada do inverno isso mudou, ao contrário do que pensava a estação não trouxe o frio costumeiro, e sim o cavaleiro que esquentou seu coração. Como nos contos ele veio montado. Não era um cavalo branco, montava uma pequena moto. Um pouco desengonçado, confesso, mas nada que não pudesse ser relevado. No lugar da espada empunhada, rosas para demonstrar o quanto ela era importante. Os espinhos ele retirou. Todos, para não correr o risco de machucá-la mais do que já estava. Com a ajuda de duendes curou seu coração. E ele tem um lugar só dele. Um castelo, grande e muito alegre. Ela continua com as histórias, cada vez mais bonitas. Hoje o mundo a vê com outros olhos. Aquela biblioteca ainda guarda seu lugar. Suas fábulas logo tomarão o espaço dos livros que lia e eu me esforçava para decorar o título. Às vezes vou visitá-la só para me sentir em uma de suas histórias, isso me faz bem. Mas o que mais me agrada é saber que eles serão felizes para sempre!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aqui jaz...

Ele ainda não sabe, mas o matei. Sem dor. Mentira. Doeu. Mas sofri calada. Ele nem pode esboçar sinal algum. Joguei terra fofa sobre seu corpo para ter certeza que não voltará. E um lírio branco, como pedido de desculpas. O mar se pintou de vermelho. O céu de cinza e a lua nem apareceu para presenciar o que os anjos desaprovaram. Eles choraram. Uma chuva forte e duradoura caiu durante o cortejo. Nem parecia verão. Toquei a marcha fúnebre. Ninguém ouviu. Mas fiz questão. Ele escutou. Tenho certeza. O enterrei perto do oceano. Como queria. As pestanas arroxeadas cobriam o que ele tinha de mais bonito. As mãos cruzadas sobre o peito nú. Pela última vez toquei seus lábios com os meus. Eles ainda pareciam me querer. Tinham cheiro de limpeza. Como da última vez que o vi. Moedas não lhe faltarão para dar ao barqueiro do Rio Lete. Mas somente duas é o que lhe entregará. Essas eu já coloquei em seu bolso. Para garantir que não vai vagar por aqui. E o poupar de sua mesquinhez. Em pensar que esse é o real motivo. Mas agora “Inês” já é morta. E nada importa mais. Há dois dias enxerguei no céu o que aconteceria. O dourado anunciava. Os fogos clareavam o horizonte e uma fumaça negra tomou as nuvens brancas. E tudo parecia diferente. As flores não tinham mais perfume. Isso o agradava. O algodão doce cor-de-rosa empalideceu. A maçã do amor derreteu em minhas mãos. Não ouvia o barulho das crianças brincando, nem tão pouco as ondas batendo nas pedras. Ele realmente havia ido para nunca mais voltar. Em sonhos quem sabe. Mas nem assim o quero. Não quero o que não posso ter por completo. De corpo e alma. E ele se dava mais de corpo que de alma. Eu que sou pura essência sentia falta. Às vezes ainda penso nele. Como ontem. O dia estava tão bonito. E azul. Mas deixei o pensamento se esvair. E o vi pulando pela janela. Estávamos no oitavo andar, mas ele nem se machucou. Só se foi. Ainda bem! Agradeço aos céus por isso. Ontem uma forte tempestade varreu tudo o que havia ficado para trás. Senti uma lágrima escorrer. Limpei. E hoje amanheceu tudo claro. Eu vibrei. Nem foi tão ruim. Pensava que seria pior. Mas não foi. E tudo o que eu quero é uma boa xícara de café para me manter acordada. Sem correr risco de sonhar. Não quero o que não me pertence. Biscoitos ficam melhores recheados. Eu prefiro. Ele nem liga. Mesmo assim não me agradam. Ele come. Eu assisto. Mas nada mais interessa. O importante é que quando as queimas começarem, ele estará sete palmos abaixo da terra. E eu, pulando sete ondas nem o desejarei ter no ano que começa.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

10 coisas que eu odeio em você...


Não fui eu que escrevi, mas poderia ter sido... Com exceção da parte de odiar como dirige meu carro!

"Odeio o modo como fala comigo
E como corta o cabelo
Odeio como dirige o meu carro
E odeio seu desmazelo
Odeio suas enormes botas de combate
E como consegue ler minha mente
Eu odeio tanto isso em você
Que até me sinto doente
Odeio como está sempre certo
E odeio quando você mente
Odeio quando me faz rir muito
Mais quando me faz chorar...
Odeio quando não está por perto
E o fato de não me ligar
Mas eu odeio principalmente
Não conseguir te odiar
Nem um pouco
Nem mesmo por um segundo
Nem mesmo só por te odiar"

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

...



Se ele não tivesse atendido o tel eu juraria que tudo foi um sonho de uma madrugada de inverno... Se bem que amanheceu e o sol estava lá, radiante! Mas era junho e o outono havia acabado há dois dias. Nem o "Vai ficar bravinha mmo?" existe mais! Sorte minha ser saudável e odiar bolachas. Meus filhos nem saberão o que é isso!!! Juro!!!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Interesante....


Li num blog a postagem a seguir:

Sonhos

- Sonhei com o senhor e com a vó essa semana.
- Ah é? Por isso que a gente vive.
- Hum?
- No meu tempo diziam que quando a gente sonha com alguém a pessoa vive mais.


Vida longa ao Rei!!!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Nossos destinos foram traçados na maternidade



Desceu do carro mostrando seus lindos dentes brancos emoldurados por lábios rosados e pouco carnudos. Tomou seu rumo. E eu para não demonstrar tristeza nem segui seus passos com o olhar. Tomei o celular em minhas mãos para ver as chamadas que não pude atender. Olhei uma última vez para frente. Em meio a toda aquela escuridão tudo o que eu enxergava eram dois feixes de luz azul. Ele esperava junto ao portão. E eu meio desengonçada nem percebi que estava lá. Olhava o celular e ele me olhava. Foi um momento mágico. Seus olhos esbugalhados pareciam querer ir comigo. O senti assustado, prestava atenção a minha manobra. Se ele soubesse quantas balizas colocou entre nós. Dirigia perfeitamente. Sempre teve o domínio da situação. A não ser quando o possuo. Aí quem dá as cartas sou eu. Jogo da minha maneira. Ele ganha. Eu ganho. A menina dorme. A mulher desperta. Mas quando tudo acaba, volto a colocar a cabeça em seu peito e me sinto como criança. E o carro volta a morrer em minhas mãos. Ele dá a partida e eu sinto o cheiro do asfalto queimando. Ele vai para longe sem data para voltar. Meu coração já nem bate tão forte. Parece ter se acostumado à situação. Uns dois quilômetros depois uma lágrima cai confirmando a tristeza que meu orgulho não deixou demonstrar. Mais uma vez calei. Não foi medo, nem tão pouco falta de coragem. Tudo estava tão perfeito que parecia que nunca iria acabar. Mas como sempre acabou. E o homem com o saco de pão nas mãos percebeu minha dor e se preocupou. Ainda existe gente boa no mundo. O que me consola é saber que quando as queimas de fogos acabarem ele retornará para o mar. Ele estava lá no momento em que nasci. Isso me tranqüiliza. Sem saber fui prometida. Como as princesas de contos de fadas. Eu espero em meu castelo. Não só, mas sem um pedaço. Um pedaço de mim que está nele. E tudo se completa. Não somos metades de laranja, mas pedaços de uma torta de limão que se encaixam perfeitamente.
Ele parece fugir da felicidade. A cidade de pedra não é seu lugar. Eu espero doce e paciente. E escutei na música tudo o que sinto calada na mesa de café. Não é fácil. É estranho não te contar meus planos, não te encontrar. Na verdade te encontro todos os dias. Nas músicas, em meus sonhos. Ontem estava vestido de azul. Sempre o azul. Com o sorriso estampado no rosto. Como eu gosto. Aquele ar de garoto arteiro. Pude até sentir seu beijo molhado e me esquentar no calor do seu abraço. Mas o despertador tocou e tudo se dissipou. Nem sei como sinto saudades das suas censuras, mas sinto. Da sua braveza, do seu comando. Do pedido de desculpa tímido no farol. Acho que foi o que mais gostei até hoje. Ele se abriu em verde, da cor dos meus olhos. E sua boca tremia. Eu vi! Como sempre você negou. Mas não importa. Porque o essencial é invisível aos olhos.