terça-feira, 4 de novembro de 2008

Nossos destinos foram traçados na maternidade



Desceu do carro mostrando seus lindos dentes brancos emoldurados por lábios rosados e pouco carnudos. Tomou seu rumo. E eu para não demonstrar tristeza nem segui seus passos com o olhar. Tomei o celular em minhas mãos para ver as chamadas que não pude atender. Olhei uma última vez para frente. Em meio a toda aquela escuridão tudo o que eu enxergava eram dois feixes de luz azul. Ele esperava junto ao portão. E eu meio desengonçada nem percebi que estava lá. Olhava o celular e ele me olhava. Foi um momento mágico. Seus olhos esbugalhados pareciam querer ir comigo. O senti assustado, prestava atenção a minha manobra. Se ele soubesse quantas balizas colocou entre nós. Dirigia perfeitamente. Sempre teve o domínio da situação. A não ser quando o possuo. Aí quem dá as cartas sou eu. Jogo da minha maneira. Ele ganha. Eu ganho. A menina dorme. A mulher desperta. Mas quando tudo acaba, volto a colocar a cabeça em seu peito e me sinto como criança. E o carro volta a morrer em minhas mãos. Ele dá a partida e eu sinto o cheiro do asfalto queimando. Ele vai para longe sem data para voltar. Meu coração já nem bate tão forte. Parece ter se acostumado à situação. Uns dois quilômetros depois uma lágrima cai confirmando a tristeza que meu orgulho não deixou demonstrar. Mais uma vez calei. Não foi medo, nem tão pouco falta de coragem. Tudo estava tão perfeito que parecia que nunca iria acabar. Mas como sempre acabou. E o homem com o saco de pão nas mãos percebeu minha dor e se preocupou. Ainda existe gente boa no mundo. O que me consola é saber que quando as queimas de fogos acabarem ele retornará para o mar. Ele estava lá no momento em que nasci. Isso me tranqüiliza. Sem saber fui prometida. Como as princesas de contos de fadas. Eu espero em meu castelo. Não só, mas sem um pedaço. Um pedaço de mim que está nele. E tudo se completa. Não somos metades de laranja, mas pedaços de uma torta de limão que se encaixam perfeitamente.
Ele parece fugir da felicidade. A cidade de pedra não é seu lugar. Eu espero doce e paciente. E escutei na música tudo o que sinto calada na mesa de café. Não é fácil. É estranho não te contar meus planos, não te encontrar. Na verdade te encontro todos os dias. Nas músicas, em meus sonhos. Ontem estava vestido de azul. Sempre o azul. Com o sorriso estampado no rosto. Como eu gosto. Aquele ar de garoto arteiro. Pude até sentir seu beijo molhado e me esquentar no calor do seu abraço. Mas o despertador tocou e tudo se dissipou. Nem sei como sinto saudades das suas censuras, mas sinto. Da sua braveza, do seu comando. Do pedido de desculpa tímido no farol. Acho que foi o que mais gostei até hoje. Ele se abriu em verde, da cor dos meus olhos. E sua boca tremia. Eu vi! Como sempre você negou. Mas não importa. Porque o essencial é invisível aos olhos.

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