segunda-feira, 13 de outubro de 2008

No mais estou indo embora...


Acordou com um latido estridente em seu ouvido. Abriu os olhos, mas nada enxergava. Tateou a cama até onde podia, sentindo o espaço vazio. Tirou a venda para enxergar o que suas mãos não encontraram. Algo havia sumido como as nuvens escuras em uma tarde de verão. Pegou o celular. Nenhuma chamada. Levantou-se e colocou o chinelo com estampa de flores para não pisar no chão gelado. Abriu a janela para ver como o céu estava. Ventava muito, mas ainda assim o sol se fazia presente. Pensou em quanto tempo não via um dia tão dourado. Então sem pestanejar abriu a porta e foi até a cozinha. Nada encontrou. A não ser a louça suja do jantar que haviam saboreado na noite anterior. Os copos estavam com a marca de seu batom. Ele dispensava. Mas ela teimava em passar, gastando-o com ele. Seus lábios pálidos pediam. Ele a preferia sem. Haviam se amado loucamente no tapete da sala. Ele preferia a cama. Ela lugares inusitados. O cheiro de sexo ainda pairava no ar. Recolheu as roupas que estavam jogadas pelo chão. Sentiu falta da camisa branca e da calça jeans surrada. Foi até a área de serviço e jogou o vestido vermelho dentro da máquina de lavar. Não a colocou para funcionar. Desceu o varal e pegou uma toalha. Quem sabe ele chegasse enquanto ela se banhava. Despiu-se lentamente. Ao passar a blusa por seu rosto sentiu o cheiro de seu perfume, um odor doce de desodorante de mulher. Afrouxou o elástico da calcinha e deixou-a cair no chão. Prendeu o cabelo, não tinha pretensão de lavá-lo. Ligou o chuveiro e deixou a água correr. Esticou o pé molhando só a ponta dos dedos para sentir a temperatura da água. Pegou o sabonete em suas mãos e molhando o corpo todo se ensaboou. Não conseguia parar de pensar onde ele estava. Talvez tivesse saído para comprar cigarros. Mas não possuía o vicio de fumar. Desligou o chuveiro e estendeu as mãos para alcançar a toalha. Enrolou-se nela e com as pernas ainda gotejando dirigiu-se até o quarto. Abriu o guarda-roupa. A camisa azul estava no mesmo lugar. Pegou um short-doll amarelo e se vestiu com ele. Soltou a presilha e balançou os cabelos passando a mão por entre os fios. Sentou nos pés da cama e ligou o computador. Conectou-se com o mundo e em uma página de pesquisa jogou o nome dele. A primeira busca foi sem sucesso. Pensou então ter digitado algo errado. Deletou as letras e digitou novamente. Nada encontrado. Tomou o celular em suas mãos à procura da agenda. Jogou a primeira consoante de seu nome. Nada apareceu. Olhou para a janela e o céu já não estava tão azul. Um cinza escuro havia tomado o lugar do sol. Deitou-se na cama e entendeu que tudo aquilo havia sido um sonho e na tentativa de voltar para ele adormeceu.

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