quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Os três mosqueteiros.


Devagar os cavaleiros surgiram e foram aproximando-se dela. Cada um com uma flor na mão. O primeiro era esguio. A pele clara como o alvorecer fazia com que suas nobres veias aparecessem. Todo de branco como se anunciasse um novo ano. Os olhos cor de oceano moviam-se rapidamente. Carregava consigo a mais rara de todas as flores. Uma tulipa azul que fora cultivada no topo dos Andes. Durante longos duzentos anos ela foi esperada. E ele a ganhou em um jogo de gamão. Sem esforço. Contou somente com a sorte. O segundo era mediano. A pele parecia ter sido castigada pelo sol. Seus olhos lembravam duas jabuticabas. Não fazia questão de abri-los muito. Calado observava tudo à sua volta. Nada comentava. Em mãos, um lírio branco. Diferente do normal, esse tinha o caule negro como se houvesse sido mergulhado em um caldeirão de piche. Ela achou estranho. Nunca havia visto uma flor como aquela . Sem comentar continuou a observar. O terceiro era alto e bem forte. Os cabelos arrepiados lembravam grama curta. Os olhos cor de melado expressavam ansiedade. Ainda assim não paravam de fitá-la. Entre os dedos longos estava uma margarida amarela. Algumas pétalas haviam ficado para trás, mas ele a carregava com muito cuidado para preservar as que ainda sobraram. Ela parada em frente a eles fazia questão de seguir cada movimento. Olhou intensamente para os olhos de cada um deles. Ouviu o que cada um tinha para dizer. O da tulipa prometeu dar a ela uma vida calma. Azul como a cor da flor que carregava. Morariam em um castelo no alto da colina. Lá ela desfrutaria de muito luxo e requinte. Disse também que não estaria presente em todos os momentos. Nas noites frias ele a deixaria para ajudar a acender as lareiras de seus súditos. No verão não desfrutaria das tardes no campo junto a ela, pois precisava garantir que não faltaria água para os seus. O segundo jurou fazê-la desfrutar de muitos prazeres. Principalmente os carnais. Incumbiu-se de apresentar-lhe todas as delícias da vida. Estaria sempre ao seu lado. Não se ausentaria nunca materialmente. Mas sua alma havia sido vendida ao Diabo. E por isso ele não seria totalmente atencioso e em alguns momentos a faria sofrer. O terceiro teve dificuldade em prometer-lhe algo tentador. Decidiu então contar como era sua vida. Vivia em uma cidade distante. Sentia falta de algo. Resolveu sair à procura do preenchimento para o vazio que desolava sua alma. Viajou até o mar. Lá avistou um navio ancorando. Dentro dele a princesa. Naquele exato momento soube que havia achado o que procurava. Não podia dar a ela grandes esperanças. Seus tesouros eram seus amigos e família. Os prazeres que poderia proporcionar a ela era o de dar carinho e fazê-la sorrir sempre. A princesa então pegou todas as flores e tomou-as para si. Seguiu em direção ao castelo dando as costas para os príncipes. Eles não entenderam muito bem o que seria resolvido. O primeiro não teve paciência para esperar a decisão da bela e decidiu partir de volta para seu reino. O segundo não podia ficar muito tempo sem dar satisfação ao diabo, então foi para sua cidade cumprir sua obrigação. Já o terceiro resolveu aguardar a resposta da princesa. Tinha jurado para ele mesmo que só sairia dali quando ouvisse sua escolha. Mesmo que esta não fosse favorável a ele.
No dia seguinte a princesa redigiu uma carta para cada um e passou por baixo da porta de seus aposentos, sem saber se estavam lá ou não. Seguiu para a praia para aguardar o escolhido. Quando lá chegou encontrou o terceiro cavaleiro com a margarida em mãos a esperando. Ela questionou o que ele fazia lá, já que acabara de entregar o envelope nos quartos. Ele pegou-a em seus braços, fitou seus olhos e disse:
“Desde o dia em que a vi pela primeira vez sabia que ficaríamos juntos. Não sabia quando, nem onde, mas sabia. Então resolvi vir para o lugar que a vi pela primeira vez.”
A princesa fechou os olhos e deixou-o beijá-la. Eles se casaram em uma linda cerimônia no mar. Ele até hoje não sabe se seria escolhido, mas dentre todas as promessas a que mais agradou a princesa foi a de poder sorrir para sempre.

2 comentários:

  1. Ai...
    Tá escrevendo cada vez melhor meu...
    Desse jeito vou ter uma concorrente...
    Bjus!

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  2. Até parece... Não existe concorrente pra vc!!! E eu não tenho pretensão de sê-lo!!!
    Te amo D+ da conta!!!
    Bjussssss

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SOMENTE PARA QUEM TEM CORAGEM DE SE IDENTIFICAR... O MUNDO É CHEIO DE COVARDES!