quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sonhos de uma noite de verão.


Se foi como um forte noroeste que antecede a tempestade de verão. Ele nem começou ainda e já tenho as faces queimadas pelo sol ardido da manhã. O céu acorda antes das seis e posso sentir como será meu dia. Um cigarro pela manhã. Quem sabe dois. As cinzas voam pela janela. E o sol invade o quarto por uma fresta. Eu pulo para não me atrasar. Ele vem atrás. Assustado. Nem parece adulto. Olhos de criança. Barba de homem. Mãos de pianista. Ele me oferece café e eu queria sentir o gosto de sua saliva. Só ganho um beijo estalado. E um adeus pela janela do elevador. Meio tímido. Meio sonolento. A porta se fecha e ainda posso sentir o cheiro de desodorante de mulher que ele insiste em usar. Um “Bom Dia” desconhecido me faz voltar à realidade. Eu ainda sonhava. Tive que acordar. Ele nem insistiu. Só aceitou. Seus olhos pediam companhia. Eu neguei. Não por não querer. Mas por querer demais. O velocímetro marcava as batidas do meu coração que agora estavam descompassadas. Excesso de velocidade. Mais uma multa. Quem sabe. Nada tirou meu bom humor. E me peguei rindo sozinha algumas vezes durante o dia. Até olhei no espelho para gravar a imagem. Mas só conseguia sorrir. E lembrar da dança. E da cara de arteiro. Já havia esquecido. Mas ele não deixou. Ainda bem! Lamento seu péssimo gosto musical. Maldita seja! Gosto da graças, odeio a música. Eu repito. Ele sabe e ignora. E sem esperar o telefone toca. Ele se importou. Pareciam os velhos tempos. Tudo estava como antes. O cabelo um pouco maior. Fiquei feliz em saber que tentou pelo menos. Mas é muito vaidoso para isso. E lindo. O mesmo pijama. Os pés descalços no chão de madeira. O tapa silencioso no bumbum e uma risada safada. Tudo igual. Um pouco mais velho, se colocarmos na balança nada mudou. Ele acha que sim. Eu digo que não. Ele aceita. Sem discutir. E de repente ele fica indisponível. Eu sem coragem deixo. Mas as ruas não me deixam o esquecer. As igrejas insistem. Eu tento. Sem esforço. Desisto. O ronco me faz lembrar. E meus olhos marejam. Abaixo os óculos para ninguém perceber. Me seguro algumas vezes para não falar. Não consigo. Caio em tentação. A mesma resposta de sempre. Já era de se esperar. Então o despertador toca. Percebo que outro dia começa. Sem sol. Sem bom humor. Sem cigarros. Sem adeus pela janela. Sem “Bom Dia” desconhecido. É só mais um dia.

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