terça-feira, 10 de julho de 2012

Algumas coisas que aprendi com Alice...

Você precisa saber para que direção está indo mesmo que não saiba o próprio nome;

Para chegar aonde se quer é preciso caminhar bastante;

Considere todas as possibilidades, mas não chore;

Nada se é conquistado com lágrimas;

Aproveite bem os momentos, o eterno pode durar apenas um segundo;

Se eu tivesse um mundo só meu nada teria sentido, nada seria o que é pois tudo seria o que não é;

As melhores pessoas são as loucas;

Nuca se sabe ao certo o que as pessoas serão de um minuto para o outro;

A cada dia que passa você é uma pessoa diferente;

Os melhores presentes são os de desaniversário;

Apreciar o que se tem não é a mesma coisa de ter o que se aprecia;

Tudo o que parece ser curioso vale a pena dar uma espiada;

Comece pelo começo e, prossiga até chegar ao fim, então pare;

Quando não conseguir se lembrar de algo ande para frente;

Nem sempre as coisas estão explícitas, às vezes você precisa enxergar além do que está vendo;

Os contos de fadas podem virar realidade e você pode se encontrar em meio a um deles;

Se cada um cuidasse da própria vida, o mundo giraria bem mais depressa;

Nossas decisões não devem ser para agradar aos outros;

Gaste seu tempo com coisas melhores do que adivinhações que não tem resposta;

Fale do tempo com respeito;

Cuide dos sentidos que os sons cuidarão de si;

Não é bom pertencer ao sonho de outra pessoa;

Perca a razão algumas vezes;

A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível;

Quanto mais de cabeça para baixo se está, mais coisas você pode inventar;

Tudo tem uma moral se você conseguir simplesmente notar;

O maior enigma da vida é quem você é;

Não existe maneira melhor de se explicar uma coisa que não seja fazendo-a;

Pessoas que aparecem e desaparecem de repente me deixam com vertigem;

O amor faz o mundo girar;

Quando tiver dúvida, fique em silêncio;

Cada saída leva a um lugar diferente;

Qualquer caminho serve quando você não sabe onde quer ir;

Pense em 6 coisas impossíveis antes de tomar café da manhã;

Se você sonhar com algo mais de uma vez, com certeza vai se tornar realidade;

Certo ou errado o caminho que escolheu é seu;

Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma;

Isso não é nada perto do que eu poderia dizer, se quisesse.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Eu tive um sonho...



 Não faça isso! - Suplicou Alice.
- Me dê um motivo para não fazer!
- Não tenho motivos para você não fazer, pois nem sei quem você é!
- Não sabe mesmo?
- Claro que não! Como posso saber quem é, ou o que é algo que não posso ver!
- Você não sente o meu cheiro? Não me reconhece por ele?
- Só sinto um cheiro ardido, que faz marejar meus olhos.
- E ainda assim você diz que não sabe quem eu sou?!
- Não sei e não entendo o motivo de correr atrás de mim! O que você quer?
- O que eu quero?
- É! Porque corre atrás de mim?
- Menina, você está me irritando mais do que quando esteve naquele lugar idiota!
- Lugar? Que lugar?
- Alice, sua menina petulante! Está tirando sarro de mim com essas suas perguntas incessantes. O que pensa menina? Que pode questionar tudo nessa vida? Tem que aceitar certas coisas calada.
- Aceitar? O que?
- É menina. Você acha que tudo pode ser respondido, mas não pode e não deve. Você precisa começar a entender isso!
- Olha, não seu quem você é nem o que quer, mas se veio por isso pode voltar para o lugar que você chama de "idiota"!
- Menina atrevida!
Nesse momento começou a surgir uma fumaça negra bem na frente de Alice que começou tomar a forma de uma pessoa, a nuvem estava com o braço esticado e, apontava na direção da menina.
- O que é isso? Saia daqui!
Alice batia as mãos contra a fumaça, mas de nada adiantava, pois ela voltava a tomar forma.
- Me dê isso agora! Você vai ver como é bom não ter coração. Vai pairar no meio do nada. Vai passar noites em claro pedindo para que as lembranças voltem. Vai se sentir vazia, assim como eu me sinto. Vai passar o que eu passei durante todo esse tempo. E o seu coração vai bater no meu corpo de hoje em diante!
- Mas eu nada tenho a ver com isso! Não pode se vingar de mim por algo que eu não fiz!
- Não quero saber! Pare de tentar me persuadir. Você sempre faz isso. Tenta mudar como as pessoas pensam!
-Mas eu não faço por mal. Só tento mostrar para elas que em toda situação existem dois lados!
- Sempre isso. Pelo que sei depois que “aquilo” a dominou você enxerga tudo de três formas.
- Não quando eu estou certa. Aí só existe mais uma forma de ver as cosas, a da outra pessoa. Mas nem sempre as pessoas entendem isso. É difícil ser gente. Você nem sabe quanto! E as pessoas são tão difíceis.
- Ah menina, pare de falar!
- Não! Pare! Não quero meu coração batendo no corpo de outra pessoa. Isso não é justo!
- Quem disse que o mundo é justo? Você vive aí em SEU mundo, pensando que todas as coisas deveriam ser perfeitas, mas não são!
- Eu sei que não. Mas não custa nada tentar!
- Venha cá.
Aquela nuvem de fumaça agarrou Alice pela gola do vestido e com a outra mão, feita de névoa, rasgou o tecido bem no meio, deixando sua pele nua. Colocou a mão na direção do coração da menina. Alice começou a sentir uma dor horrível.
- Pare! Está doendo muito!
O coração de Alice começou a tomar forma fora de seu corpo, nas mãos do ser.
- Pare! Por favor.
Alice começou a escorregar na mão da nuvem e caiu no chão.
Seu coração sumiu da mão daquele ser sombrio.
Alice, que apesar de se sentir fraca, saiu correndo.
O ser ficou muito bravo e mais do que rápido foi atrás da menina.
Seus pensamentos voavam na mesma velocidade de seus pés. Alice corria e olhava para trás como quem fugia de alguma coisa. Não era como quando aquele pequeno animal de orelhas compridas ficava passando por ela e gritando que ia chegar atrasado. Mas não havia nada à sua frente. Nada além de uma forte neblina que sumia quando ela passava. Mesmo assim seus olhos estavam esbugalhados e sua feição era de quem havia visto o mais terrível monstro.
Sua face estava pálida e seus lábios sem cor. Alice balançava a cabeça como se não quisesse ver o que estava à suas costas.
Foi quando ela tropeçou em uma pedra e caiu, com os braços esticados para frente.
Alice virou o tronco para cima e, mas do que rapidamente juntou os dedos em formato de concha, colocando as mãos na frente dos olhos para não ver o que estava vindo em sua direção.
A menina levantou o tronco, dando um forte impulso e soltou um berro.
- “Pare de vir atrás de mim!”
Alice arrancou a máscara que estavam sobre seus olhos verdes e arfou como quem tivesse corrido uma maratona. 
Ela olhava de um lado para o outro procurando respostas para aquilo. Tudo não havia passado de um pesadelo.
- Graças a Deus! – disse a menina, passando as mãos pelo rosto.
- Que pesadelo terrível! Nossa e era tão real!
Alice desceu da cama tocando os pés no chão. Ventava frio e a menina sentiu um arrepio.
Cruzou os braços e passou as mãos neles como se quisesse esquentá-los.
Deixou a borda da coberta cair no chão e andou até a janela.
Subiu o vidro e abriu a persiana deixando entrar luz em seu quarto.
Era dia de seu Santo e ala havia esquecido de rezar.
Foi até a sala e pegou a garrafa de líquido âmbar e colocou dois dedos em um pequeno copo.
Em um gole colocou para dentro o que a faria parar de pensar em tudo aquilo por algum tempo.
Queria gritar, mas não podia. Sabia o que aquilo tudo representava.
Lembrou que era junho, quase julho.
Então ela se calou e, preparou-se para dormir novamente.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Momentos

Momentos são o paraíso na terra.

Quem disser ao contrário está mentindo!

Existem momentos que você quer levar consigo para sempre.

Para lembrar na hora que dá um nó na garganta

Ou quando você pensa em desistir.

Momentos que noz fazem sorrir...

Mesmo depois de muito tempo que aconteceram.

Algumas dessas lembranças ficam marcadas...

Não só na nossa mente...

Mas na nossa alma.

Como se sempre estivessem lá.

Essas recordações nos elevam.

Nos fazem sentir mais próximo de realizar um sonho.

De alcançar um objetivo.

Nos tornam mais humanos.

Existem momentos...

Que nem parecem ter sido reais de tão bons.

Chegamos a nos perguntar se aconteceram de verdade.

Nos questionamos...

Se somos merecedores deles.

Alguns a gente sequer tira da cabeça.

Às vezes nos deparamos com algum momento e, ele paira.

E dura.

Muito mais que um momento.

E o som pára.

O movimento pára.

Por muito.

Muito mais que um momento.

E daí esse momento passa.

Nos deixando com a vontade de que o tempo volte.

Há quem faça planos para certos momentos.

Há também quem deixe o inesperado acontecer.

Mas não importa como você o planejou.

Não importa como o imaginou.

Mesmo sem saber...

O destino dá um jeito de mudar tudo.

São nesses momentos...

Que a vida prega uma peça na gente.

Há aqueles momentos que desejamos que durassem uma eternidade.

Mas nunca sabemos como eles vão acabar.

Momentos que começam de uma maneira normal...

E acabam nos surpreendendo.

Há momentos que o tempo congela...

E outros que o ponteiro gira tão rápido...

Que nem sentimos passar.

Mas a verdade...

É que alguns momentos nos marcam de tal forma...

Que deixamos de ser os mesmos quando eles acabam.

E ainda existem aqueles momentos...

Que a única alternativa é perder o controle.

Mas uma coisa é certa...

Você nunca sabe quando o próximo momento que vai marcar a sua vida vai acontecer.

A próxima memória...

o próximo sorriso

O próximo desejo tornado realidade...

O próximo momento...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Back To Black

- Por que fez isso?
Ralhou Alice para a Sombra que batia o pé direito no chão irritadamente, os braços cruzados à frente do tronco denunciavam a reprovação para com aquelas palavras.
- Não lhe pedi ajuda alguma!
A Sombra virou-se dando as costas a ela.
- Tudo bem vai! Sei que você me poupou de sentir dores horríveis, mas nenhuma dor do mundo pode ser mais forte do que essa que estou sentindo agora.
A Sombra virou o rosto um pouco para a diagonal, como se quisesse olhar para a menina que estava sentada em cima de uma pedra.
- Olhe para mim quando eu falar!
Alice levantou e puxou a Sombra pelo ombro para que ela virasse.
- Ai! Minha mão!
A Sombra virou rapidamente para Alice com os olhos arregalados de preocupação. Nada falou.
- Eu posso te tocar? Mas o que aconteceu na verdade? Eu só mastiguei aquelas pétalas que você deixou em cima do criado-mudo quando foi embora! Elas tinham um cheiro doce e eu salivava muito, algo pedia para que eu fizesse aquilo. Essa minha mania de tomar e comer coisas que deixam espalhadas por aí! E quando vejo, estou esticando, diminuindo! Quando eu acordei pensei que...
- Bom, pelo jeito você não quer falar não é mesmo? Só ouvir. Então está bem! Vamos começar!
- Não achei que tinha virado um pássaro. Quando acordei senti uma vontade imensa de voar. Só isso! E você sabe bem que eu nunca tocaria no pó mágico. Sei o que isso me custaria. Além do mais, prefiro manter uma longa distância daquela nanica mal-amada que morre de ciúmes de mim!
- Eu comi as pétalas da rosa negra porque elas pediram isso... Não queria mais sentir meu coração bater. Não dessa maneira descompassada. Não me importo em ser como você. Pelo menos aqui aquele Coelho Branco não pode vir atrás de mim. Aquela Rainha Louca manda cortar a cabeça de todos, menos dele! Uma vez até eu quase fui vítima dela. Quase! Consegui me sair dessa por pouco! Acordei antes que aquelas cartas me decapitassem! Imagina... Minha linda cabecinha! Eu não ficaria bem sem ela, não acha? Além do mais, onde iria guardar tantos pensamentos sem ela? E...
Alice levantou os olhos parando na direção daquele espectro que estava na sua frente. Enquanto falava gesticulava e balançava a cabeça incessantemente, virando para um lado e para o outro como se falasse para uma multidão. A Sombra fazia uma cara de quem estava realmente brava com todos aqueles devaneios da menina.
Alice voltou mais que rapidamente a se explicar.
- Como lhe dizia não me importo em ser como você se não tiver que viver mais com aquelas pessoas. Naquele lugar nada faz sentido. Não acredito no que elas falam. Não gosto do que elas fazem. Como se portam. Quando nos conhecemos as coisas eram diferentes. Eu vivia bem no meu País e você em sua Terra. Não fui eu que te joguei no abismo, você me atirou no meio de todo aquele lodo e pulou em seguida. Eu não conseguia sair de lá. Até tentei voltar para a sua Terra, mas você não fez nada. Afastou-me de você. Me jogou nas garras daquele Crocodilo. E para piorar tudo ele fazia tic-tac. Como se já não bastasse o Coelho com aquele relógio insuportável! Foram meses horríveis, tristes, escuros. Ele conseguiu me levar para aquele pântano e ,eu achava que não podia mais sair de lá. Foi tudo culpa sua. Quando você não fez nada, você acabou me jogando para aquele réptil tenebroso. Argh! Alice piscou e balançou a cabeça em um movimento rápido de quem estava com nojo.
- A omissão também é um crime sabia?
A Sombra olhava para Alice. A menina não conseguia perceber se aquela projeção de gente estava entendendo o que ela estava querendo dizer.
- No começo eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Me confundi algumas vezes. Queria voar alto, mas você deixou ele se alimentar da minha alma. A diferença era de um mês e um nome.
Alice voltou a sentar na pedra. Estava cansada. Havia falado sem parar. As lágrimas rolavam por sua face branca. Seus olhos estavam acinzentados.
- Eu nunca quebraria aquele espelho podendo atravessá-lo.
Alice passou a mão pelo rosto para enxugar o pranto que escorria, mas não sentiu sua pele.
- O que está acontecendo comigo?
A transformação começara a acontecer. Alice estava virando Sombra.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Eu volto...

Alice virou-se estendendo a mão para alcançar o celular. A máscara, ainda sobre seus olhos a cegava, impedindo-a de enxergar onde estava o objeto que emitia um som insuportável. Desligou o aparelho ainda sem ver qual era a tecla correta que tinha que apertar.  Puxou o tapa-olho. A luz que vinha da janela incomodou seus olhos verdes. “Maldita fotofobia”. Colocou o polegar entre seus seios nus. Nenhum batimento. Estendeu o braço e juntando o indicador com o dedo médio pressionou o pulso. Nada sentiu. Fechou os olhos só por alguns segundos para conferir se conseguia escutar o arfar de sua respiração. Nenhum barulho. Seu plano havia dado certo. Virou apenas para a esquerda, fazendo seus pés frios que estavam na mesma temperatura do porcelanato tocar o chão. Levantou o tronco e foi em direção a prateleira de mármore que ficava na frente da sua cama. Passou a mão pelos bibelôs que ficavam lá parados, velando seu sono. Parou o dedo em sua mais nova aquisição. Contornou os lábios de uma das pequenas estatuetas, que a olhavam timidamente, com a ponta do indicador. Tirou-a cuidadosamente do lugar para não esbarrar nas demais. Sem mirar, a arremessou pela janela. Do sétimo andar ouviu o estilhaçar da porcelana no solo. Fez o mesmo com as outras. Cada vez com mais força. Quando chegou a hora da última se chocar com o chão, deu um impulso o mais longe que pode com o braço, mas não arremessou. Com passos curtos e lentos se aproximou da janela escancarada. Posicionou sua mão direita, que guardava a estaueta, em cima de seu seio esquerdo. O vento balançava as cortinas estufando-as. Sentou no parapeito. Os dedos longos espremiam o boneco com tanta força que pode sentir a cerâmica partindo no meio da palma de sua mão. Logo suas unhas pintadas de branco se misturam ao vermelho de seu sangue. Olhou para trás. Fechou os olhos o mais forte que pode. Disse algo baixo, quase sussurrando e, saltou para o nada.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Batidas na porta da frente


Eu posso, ele não vai poder me esquecer

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Vinte e nove

Hoje, dia 29, aniversário da Lebre de Março. Alice não sabia mais por onde ela andava, e para falar a verdade, nem a interessava mais o seu paradeiro, mas Alice decidiu lhe dar os parabéns. E se desculpar também, por tudo o que fez, e o que deixou de fazer.
Por ter sido tudo em um dia, e em outro nada. Pelas horas de espera. Por ter tido com ela toda a paciência do mundo. Gostaria de agradecer pelas pequenas coisas, e pelas grandes também. Pelos damascos secos que foi buscar em uma de suas viagens à Babilônia. Por tê-la feito sorrir tantas vezes. Por tê-la ensinado a gostar de Korn. Pelas noites de filme de terror. Pelas gargalhadas que a fazia dar quando levava um susto. Pelo pão feito no tostex levado na cama todas as manhãs. Por levá-la até a cama em seu colo quando Alice adormecia no sofá e ficava mal-humorada ao ser acordada.
Decidiu se desculpar por fazer a Lebre de Março acreditar em Deus novamente. Por ter-lhe iludido com um amor que não era capaz de corresponder. Por não ter compreendido antes, que amar é simplesmente estar ao lado, sem motivos. Alice Pedia desculpas por ter feito aquele ser sofrer tantas vezes. Pelas mentiras e pelas verdades também. Por sua ausência e por sua presença. Agradecia por tê-la tornado Alice. Por fazer Alice entender que é mortal. Por ter despertado naquela menina, a mulher que ela é hoje. Por ter dado à ela um lado humano, que era até então desconhecido. Por tê-la ensinado a falar besteiras e comer bobagens. Por ter-lhe mostrado o lado negro da vida. E a fazer enxergar que até nas trevas existem cores. Por ensinar Alice a sorrir para as pessoas na rua. Por ajudar Alice entender o que ela quer e saber o que ela realmente não quer para sua vida. Alice dá os parabéns para uma Lebre que existiu em um passado bem distante, não para a Lebre de hoje. Alice só quer parabenizar a Lebre de Março pelo seu aniversário, e, dizer que em todos os dias de sua vida Alice vai se lembrar do que a Lebre fez por ela e para ela.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Olho por olho


Quando Alice entrou na sala a Sombra tocava lentamente os dedos em cada boneco exposto na estante, como se pudesse com aquele movimento extrair deles alguma resposta.
- Tire as mãos daí! - Pensa que eu não a estou vendo?
Alice gritou com a Sombra para que ela a obedecesse prontamente. Com o susto a Sombra deixou um dos pequenos bonecos cair no chão. Com a queda ele se partiu, separando a cabeça do resto do corpo.
- Viu o que fez? Sabia que isso iria acontecer! Sempre que eu entro aqui você está mexendo neles. Eu finjo que não vejo e você se esconde em algum canto!
A Sombra já havia se metido em alguma brecha escura desaparecendo. Deixando para Alice limpar toda aquela bagunça.
- Veja se pode! Sei que está Aí! Por isso ouça com muita atenção!
Alice estava brava e enquanto falava abaixou-se para recolher os cacos que estavam no chão. Tentava montar, como se fosse um quebra-cabeça, aquela figura que agora estava decaptada.
- Não quero mais ver você mexendo nas minhas coisas! Se quiser me visitar tudo bem, mas de hoje em diante vai ter que entrar e pedir permissão. Pare de fazer tudo escondido. Se quiser me perguntar algo então faça!
A Sombra foi saindo lentamente de onde havia se escondido e aparecendo novamente para Alice.
- Não sei o motivo de você fazer isso! Fale algo pelo menos! Fica deixando recados e coisas quebradas pelo chão. Você acha que isso me agrada? É claro que não! Fora que é menos um para a minha coleção! Olha, você me deixou realmente brava!
Alice dirigiu-se até um armário branco de contornos azuis, abriu a porta e tirou de uma das prateleiras um pote de cola. Passou pela porcelana aquela gosma branca e tentou juntar o corpo com a cabeça.
- Me diga! Gostaria se fosse com você? Que ficassem remexendo nas suas coisas? Pelo menos me diga o que quer, horas bolas!
A Sombra agora olhava assustada para Alice, que segurava a cabeça do pequeno boneco para tentar fixá-la ao seu corpo.
- E por que sempre eles? O que você tem a favor deles? Nem sei o motivo de eu estar perguntando, como sempre você não vai responder!
Alice levantou o olhar procurando a sombra, que agora estava grudada em uma parede com as mãos espalmadas.
- Não é o primeiro que deixa cair, mas espero que seja o último. Eu demoro para os conquistar e quando acontece, você chega como quem não quer nada e os tira de mim! Entenda que aí é o lugar deles. Não servem para estar em outro lugar. Não passam de enfeites. Não adicionam nada a vida de ninguém. Por isso os trago para cá. Em outro lugar poderiam estar fazendo um grande estrago. Você não entende!
Realmente a Sombra não entendia. E fazia cada vez mais uma cara de interrogação.
- Você sabe bem o que eles fizeram comigo. Não é nenhuma maldade o que faço com eles. Só dou a eles o que merecem. Aliás, isso é pouco.
Alice soltou a cabeça do boneco que já havia se colado ao corpo. Assoprou, como se aquilo fosse fazer alguma diferença, e o pôs na prateleira acima da que havia tirado o pote de cola.
- Menos um para a minha coleção. Dese jeito eles nunca vão pagar pelo que fizeram e você é o culpado!
A Sombra saiu de perto da parede e foi em direção às costas de Alice.
- Pare de agir como se eu fosse má. Ninguém aprende nada sem uma lição! E eu estou tentando dar uma neles. Sei que vai demorar, mas um dia vai acontecer e eu quero todos, uns ao lado dos outros.
A Sombra chegou bem perto do ouvido de Alice e sussurrou algo. Alice sentiu e virou-se rapidamente. A Sombra voltou para cima da estante.
- Isso é um sim ou um não?
A Sombra não se mexeu.
- Não é problema meu se deixaram eu capturar a alma deles. Eles foram os errados. Eu os prendi aí dentro porque foram desleais. Merecem ficar confinados. Dentro de um lugar apertado, sem liberdade. Somente assistindo. Não participando de nada. Não podendo opinar. Sem o controle de suas vidas. Durante muito tempo fizeram isso com alguém. Nada mais justo do que passarem pelo que fizeram outras pessoas passarem.
A Sombra abaixou os olhos e fez que sim com a cabeça. Alice não podia ver. Mas ela estava concordando com tudo.
- Acha que eu queria que fosse assim? Mas alguém tem que fazer esse trabalho. Não gosto de dedicar todos os dias da minha vida a pessoas que não dão sequer valor àquelas que dizem amar!
A Sombra sabia bem do que Alice estava falando. E agora ia em direção a janela.
- Um dia vou me livrar desse serviço. E isso não está muito longe de acontecer. Um dia desses recebi uma carta dizendo que faltavam poucos para completar a minha coleção. Assim que ela estiver completa eu estarei livre. Mas eu só vou conseguir fazer isso se você parara de libertar eles. Será que entende?
A Sombra subiu no parapeito da janela, olhou para Alice, deu um impulso para cima e sumiu na noite.
As cortinas estufaram com o vento, e Alice virou-se para a janela, sentindo um frio na espinha.
Virou para os bonecos e olhando fixamente para um disse:
- Vocês podem me olhar, mas não irão me tocar nunca!
Soltou a toalha que ainda estava envolta em seu corpo deixando-a cair no chão de mármore. Deitou nua sobre a cama, de frente para a estante. Em um ângulo em que todos os bonecos a pudessem ver, e adormeceu.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Mas quando eu estiver morto...


- Enterre seus mortos!
Alice virou o rosto assustada.
- Vá até o quintal e faça antes que eles venham lhe assombrar!
Ouviu aquilo de cabeça baixa. Deu as costas e foi em direção ao lugar mais baixo do quintal. Começou a cavar com as mãos, mas em pouco tempo suas unhas estavam cheias de areia e seus dedos inúteis. Levantou e foi até a edícula. Saiu de lá com uma pá nas mãos e prometeu para si mesma só parar quando tivesse cavado o mais fundo que pudesse.
Em pouco tempo havia aberto uma cova com mais de dez palmos.
Com as costas da pá, bateu forte nos cantos do buraco para se certificar que as paredes não iriam ceder. Apoiou as mãos no alto do buraco e com um pulo voltou ao solo. Já estava se sentindo sem ar dentro daquele lugar.
Com a cabeça um pouco mais erguida foi até a sala onde havia deixado todos os corpos. Eles estavam no mesmo lugar. Um ao lado do outro. Imóveis. Nem pareciam os mesmos. Começou pelo que julgou dar mais trabalho. Estendeu seus braços e o arrastou até o buraco que havia cavado. Com um movimento rápido jogou o corpo lá dentro. Pegou o lírio que havia separado e atirou em cima do corpo.
- Flores tem significado.
Falou como se eles a pudessem ouvir.
- Vocês vão entender. Não agora, mas eu sei que vão.
Voltou correndo para a casa grande e saiu arrastando o segundo corpo.
- Ainda tenho um longo trabalho a fazer.
Quando o último cadáver foi posto dentro da vala, atirou o último lírio e começou a jogar terra fofa em cima de todos eles. Lançou os primeiros punhados de terra com a mão. Depois segurou a pá com os dedos trêmulos e jogou mais terra, até o buraco estar completamente cheio. O sol já se mostrava no horizonte e ela estava tão cansada que nem percebeu que um novo dia já havia sido anunciado.
Devagar arrastou seu corpo que agora parecia ter o dobro do peso até o quarto. Tirou os sapatos e o sobretudo que vestia. Arrancou as calças e arremessou o mais longe que pôde. Se jogou sobre a cama e adormeceu.
Horas depois foi acordada por uma voz firme que vinha de longe.
- Levante e acabe o trabalho! Os mortos são seus! Não deixe isso para que eu tenha que resolver!
Alice colocou os pés para fora da cama e os encostou no chão gelado. Fazia frio.
Chegou até a pia e levantou os olhos na altura do espelho. As olheiras estampadas em seu rosto denunciavam a noite difícil que havia tido. Não gostou do que viu. Mesmo assim não podia voltar para a cama. Não com o trabalho inacabado. Abriu a torneira. Deixou a água correr um pouco. Juntou as duas mãos e as levou cheias em direção ao rosto. Molhou as faces e piscou algumas vezes os olhos. Voltou a olhar para o espelho. O reflexo era o mesmo. Abriu as portas do box e estendeu as mãos até o registro. Como se não quisesse fazer aquilo, levantou os braços e puxou a blusa fina que cobria seu tórax. Puxou as laterais da calcinha e a deixou cair no chão. Esticou o pé embaixo do chuveiro para sentir a temperatura da água. Estava boa o bastante para um banho rápido. Pegou o sabonete e começou a ensaboar todo o corpo em movimentos rápidos. Tentando tirar a terra de sua pele. Esfregava as unhas para que fosse mais rápido. Em alguns minutos tinha tirado de si todos os vestígios daquela noite. Com a mão mais firme, girou a válvula e fechou o chuveiro. Algumas gotas ainda caíram. Puxou a toalha e a envolveu em seu corpo. Estava arrepiada. O inverno estava mais intenso este ano. Com as pernas pingando e os pés molhados foi até a cama e com um impulso subiu. Ficou de pé como de costume, para se secar. A roupa estava escolhida sobre o seu travesseiro. A calcinha preta foi a primeira peça que colocou em seu corpo ainda úmido. Puxou uma das laterais finas e soltou, como se quisesse escutar o barulho do elástico em sua pele. Em seguida pegou a meia-calça e se equilibrando a desenrolou pelas pernas, tomando cuidado para que ela não enganchasse em suas unhas. Após tê-la vestido desceu da cama lentamente calçando os sapatos que estavam no chão esperando por ela. Olhou para o espelho que estava às suas costas e parou por um segundo, lembrando de tudo o que havia feito. Um lampejo lhe veio à mente. Os lírios caindo sobre os corpos. Tomou o vestido cor de luto em suas mãos e esticou os braços para que ele entrasse com mais facilidade. Foi puxando centímetro a centímetro para ele se ajeitar em seu corpo. Aproximou-se então do espelho e arregalou os olhos. Tirou a toalha dos cabelos e os balançou. Não havia tempo para escová-los. Amassou os cachos e jogou os cabelos de lado. Abriu a bolsa e tirou a maquiagem para cobrir sua pele branca. Passou um pouco de corretivo embaixo dos olhos e rímel em seus longos cílios. Abriu o batom rosado e passou pelos lábios um pouco ressecados pelo frio da noite. Tirou os óculos escuros de dentro de uma caixa que ficava sobre a cômoda e o colocou no rosto. Estava pronta para terminar tudo aquilo. Passou pela cozinha e mais uma vez a voz se fez presente.
- Eles já estão esperando. Ainda bem que não vão nem sentir o quanto você demorou. Pensei que ia escorrer ralo abaixo como a água, pelo tempo que demorou!
Alice não disse nem uma palavra. Pegou a chave que estava na mesa e saiu batendo a porta.
Enquanto dirigia não ligou o som. Preferiu ouvir o som do silêncio. Estacionou o carro na lateral e desceu. Entrou. Ajoelhou-se por um minuto fazendo o sinal da cruz. Não era religiosa. Nem mesmo sabia no que acreditava. Mas acreditava que rituais tinham que ser cumpridos. Esperou a missa chegar ao fim e foi em direção do altar.
- Alice, vai ficar tudo bem. Cada um está no lugar que deveria estar. Cada um deles vai seguir o seu caminho. E você fez tudo o que estava ao seu alcance. Não deve se culpar. Isso logo vai passar. Tudo vai ser esquecido.
- Não sei se fiz certo. Enterrei eles com minhas próprias mãos. Pra sempre.
- Tudo o que fez teve um motivo. Cada um dos que enterrou mereceu. E os lírios? Achou?
- Sim. Um para cada, como o Senhor me aconselhou. - Disse Alice.
- Eles eram brancos?
- Como prometi.
- Então não precisa se preocupar. Tudo vai voltar a ser como era antes.
Alice abaixou-se novamente, inclinando a cabeça. Com a mão direita, o padre fez o sinal da cruz sobre a testa de Alice, acompanhado de um leve movimento de sim com a cabeça, apertando simultaneamente os olhos. Alice agradeceu com a cabeça e com um tímido sorriso. Virou as costas e abaixou os óculos sobre os olhos. Uma lágrima tocou o solo sagrado. E ela desceu em direção a um novo começo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sweet Dreams

"Doces podem salvar uma vida. Não é nenhum exagero não. Aliás, eles tinham que nascer em árvores. Principalmente os mini chicletes. A vida com certeza fica bem melhor com eles". Enquanto pensava isso, Alice colocava as bolinhas de mascar na boca. Sentada naquela cadeira, um moço a observava. Quando percebeu que alguém a fitava, olhou para os dois lados para certificar que era com ela. Ele sorriu. Ela ficou corada, abaixou o olhar, passou a mão pelo nariz, um hábito que denunciava que ela estava nervosa e respondeu ao seu sorriso. Estava em um lugar que havia jurado nunca ir. E jurou com tanta certeza que acreditou naquilo. Bem que eu disse a ela não dizer "nunca" para mais nada. Mas Alice era tão teimosa que se negava a escutar conselhos. Da maneira que subia e descia parecia até conhecer todos os cantinhos daquele lugar imenso, como a palma de sua mão. Inclinou o corpo um pouquinho para frente e olhou sorrateiramente pelo canto dos olhos, para certificar que ele ainda estava lá. Ele continuava lá e dessa vez a agraciou com uma risada. Ela voltou o corpo para trás e ficou imóvel, sem respirar. Quando era pequena e queria fingir que estava dormindo, ou quando estava brincando de pic esconde, prendia a respiração para que quem a procurasse não a encontrar. Ela acreditava ficar invisível fazendo isso. Então na tentativa dele não perceber que ela o olhava, prendeu a respiração. O jogo havia apenas começado. Ela fazia anotações e no intervalo mascava chicletes. De vez em quando olhava para baixo para certificar-se que ele ainda estava lá. Quando ele comemorava, ela olhava para o lado oposto. Isso porque ele fazia questão de virar-se para trás para ver qual era sua reação. Ela fingia escrever e esperava ele se sentar novamente. Deve fazer algum sentido. Ele ali, em um lugar que ela odeia. Ela de cara fechada mascando chicletes e colocando todos na boca como se fossem os últimos no mundo e ele sorrindo. Será que ele estava achando engraçado? Pensou ela. Não com aqueles olhos lindos. Respondeu para si. Era um costume estranho, estranho, mas engraçado. Alice fazia perguntas para ela mesma e em seguida respondia. Muitas vezes em frente ao espelho, mas como ali não havia nenhum, fingiu estar escrevendo ao fazê-las. O intervalo começou e ao vê-lo subindo Alice deu um jeito de sair dali. Escondeu-se atrás de uma daquelas camisas com emblemas horríveis. Ao voltar ao seu lugar, Alice percebeu que ele estava procurando algo. Quando ela se sentou ele virou e o jogo recomeçou. Ele olhava, ela jogava o corpo para trás e dava risada. O hino tocou e o jogo havia acabado. Ele fez sinal para ela que estava subindo. Ela começou a dar risada e se perdeu no meio da multidão. Nunca mais o viu. Pensou tê-lo visto outro dia, mas aquele não tinha o sorriso tão bonito quanto o dele. Ah, e não a olhava enquanto ela mascava chicletes.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sólo creo en tu sonrisa azul

Alice desceu a rua sorrindo e pensando em tudo o que aquele lugar havia feito por ela. As noites frias de neve, os dias ensolarados que terminavam com um vento gostoso.

Estava de volta ao lugar mais colorido do mundo, mas só pensava em voltar para o azul e branco daquela terra. Em seu rosto ainda estavam as marcas do frio que havia passado naquele país em que as pessoas falam enrolado. As ruas com nomes latinos não saiam da sua cabeça. "Os nomes latinos". O vermelho das flores, que decoravam as mesas de jantar, contrastava com o restaurante sombrio que ela fez questão de visitar.

Nunca andou tanto. Dormiu pouco para aproveitar cada segundo. Sabia que o coelho estava prestes a lhe buscar.

Na beira do mar, ele chegou de mansinho, como quem não quer nada. A barba mal feita, como ela gosta. Olhos cor cor de mel estavam atrás de lentes. A pele escura, como se tivesse acabado de tomar sol. Ela falando sem parar nem percebeu sua presença. Ele logo ele arranjou uma maneira de entrar na conversa. Ela, com a sutileza de quem a conhece, fez questão de mostrar que era um assunto seu. Ele deu risada e a desafiou. Ela aceitou. Logo estavam só os dois sentados no deck, como se fossem amigos de longa data. O vinho já havia feito efeito e ela estava meio tonta. Ele estendeu a mão para ajudá-la, ela negou. Levantou e ainda zonza quase caiu. Com uma mão ele a agarrou e a trouxe para perto dele. Ela agradeceu se afastando. Andaram um pouco até chegar ao hotel. Ela agradeceu a companhia e subiu as escadarias. Ele esperou a porta fechar para seguir rua abaixo. No dia seguinte, no saguão, ele estava lá. Com os olhos marejados de quem vai perder alguém. Ela com um sorriso tímido foi em direção a porta. Ele levou suas malas até o carro e calados seguiram em direção ao aeroporto. Nada falaram. Um adeus demorado junto com uma caixinha que ele colocou em seu bolso. Ela nem percebeu.

Já no avião, ao tirar o casaco, ela encontrou o embrulho. Ao abrir um sorriso estampou seu rosto e ela teve a certeza de que o logo o país colorido vai receber uma visita.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Hoje o tempo voa...


Ah, maldito Coelho! Porque ele tem que existir? Pensava Alice. Ela olhava para trás e lá estava ele! E pensar que por causa dele os dias eram mais curtos. Todos os meses pareciam fevereiro. Os anos bissextos? Esses haviam sido exterminados do calendário! Ah, se ela soubesse antes! Teria feito um bom e apetitoso Adobo de Conejo e servido à mesa de chá da Lebre de Março, apesar de ser abril. Tudo por causa dele! E ela nem aproveitou direito. Jamais pensou que aquele fim de semana entediante fosse a levar mais uma vez ao País das Maravilhas. Ela apertava os olhos com força para tentar lembrar de cada minuto que deixou escorrer pelos dedos como a areia fina daquela praia. Nem lembra do começo. Engraçado como as coisas mudam em pouco tempo. O que parecia não ter importância passa a tomar conta dos pensamentos. Acorda, dorme. Às vezes nem dorme. Mas lá estão eles. No mesmo lugar, cada vez mais presentes. Ao mesmo tempo como se nada tivesse acontecendo tudo ocorre. E ela dá uma gargalhada, depois fica sem graça. Tenta se explicar, mas é inútil. Já foi. Então ela ri mais. E seus lábios parecem tomar a forma de um arco. Seus olhos brilham. Mais do que o normal. Mas ela não pode controlar. Uma moeda por um minuto voltado atrás. Inútil. Ela não consegue. Desiste. Então adormece. Não mais de cinco minutos, não mais que um sonho, nada mais do que um fim de semana.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Através do Espelho


Ao olhar no espelho Alice nem se reconhece. O mesmo espelho que a levou diversas vezes para o País das Maravilhas reflete uma imagem que ela gosta mais. Mas não foi a cor de sua pele alva, nem o corte de cabelo que ela mudou. Algo lá dentro está diferente. Algo mais fundo. Que ela às vezes nem sabe explicar. O pensamento em um lugar que ela nunca conheceu. O Coelho cada vez mais rápido. E nos dias de folia ele parece acelerar ainda mais. Ela pouco dorme. Um dia compensará. Ela só quer aproveitar cada minuto enquanto o Coelho não olha no relógio. Cada minuto, cada palavra do Chapeleiro Louco que não faz sentido algum. E ela sorri. Pede para ele repetir só para ver se consegue achar algum sentido em tudo aquilo. Não encontra, mas mesmo assim ela gosta. Sem sentido. Para ela que não quer pensar no amanhã, é obrigada a lembrar que tudo tem um fim. E ela adormece após o sol nascer para não perder nada. Já que o Coelho vai chegar mesmo e botar fim no que ainda nem começou direito. E ela só pensa que daria tudo para ser janeiro novamente. O que a faz sorrir é a certeza de que contos de fadas não existem sem um final feliz.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Lá Parte IV


Em algum lugar além do arco-íris
Bem lá no alto
E os sonhos que você sonhou
Uma vez em um conto de ninar
Em algum lugar além do arco-íris
Pássaros azuis voam
E os sonhos que você sonhou
Sonhos realmente se tornam realidade
Algum dia eu vou desejar a uma estrela
Acordar onde as nuvens estão muito atrás de mim
Onde problemas derretem como balas de limão
Bem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará,
Em algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voam
E o sonho que você desafiar, porque eu não posso?
Bem, eu vejo árvores verdes e
Rosas vermelhas também
Eu as vejo florescer pra mim e pra você
E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso
Bem eu vejo céus azuis e eu vejo nuvens brancas
E o brilho do dia
Eu gosto do escuro e eu penso comigo
Que mundo maravilhoso
As cores do arco-íris tão bonitas no céu
Também estão no rosto das pessoas que passam
Eu vejo amigos apertando as mãos
Dizendo, "como você está?"
Eles estão realmente dizendo eu... eu te amo!
Eu ouço bebês chorando e vejo eles crescerem,
Eles aprenderão muito mais
Do que nós sabemos
E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso.
Algum dia eu vou desejar a uma estrela
Acordar onde as nuvens estão muito atrás de mim
Onde problemas derretem como balas de limão
Bem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará,
Em algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voam
E o sonho que você desafiar, por que, porque eu não posso?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Agradecimentos!


Eu sou tão medíocre que você ainda entra no meu blog para ler as merdas que eu escrevo. Então, quem será que é medíocre aqui? O que me dá mais prazer, é saber que uma pessoa como você tem inveja de mim por não ser absolutamante nada!
Ah, e obrigada por aumentar as estatísticas do meu blog, cada vez que você acessa minha página aumenta minha popularidade!
Bjuss e até a próxima postagem!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tequila e Piña Colada

E depois de uma noite regada à tequila e piña colada Alice acordou. Um pouco tarde como de costume, mas ainda em tempo de tirar aquilo que crescia dentro dela. Decidiu após um sonho arrancar de dentro dela tudo. Mesmo que aquilo custasse uma vida. Ela nem sentiu dor. Adormeceu. E quando acordou novamente o relógio não parecia ter andado. Não deixaria aquilo durar mais nove meses. Quando saiu daquele quarto escuro, tudo parecia mais colorido. Como ela gostava. Então decidiu andar sobre a areia fofa e deixar o vento bater em seu rosto. Sentiu o gosto da água salgada nos lábios. Viu paisagens que nem em sonhos havia imaginado existir. Esteve com pessoas que valiam à pena. Aproveitou cada segundo. Cantou. Pulou. Dançou. Fez amor no chão. Foi acordada por uma voz calma e serena. Não aos berros como a Rainha de Copas costumava fazer. Nem precisou correr atrás do coelho branco para lhe lembrar que era sábado. Dia de ficar com as pessoas que se gosta. Só esperou deitada na rede sentindo um frio gostoso e ouvindo música latina. Era dia dela. E nem precisou ir à igreja para vestir sua armadura. O fez ali mesmo, olhando para o mar que trouxe sua felicidade novamente. E entendeu que o egoísmo não tem cura. Juntou suas mãos e agradeceu. Pediu. Orou. Por tudo o que já havia passado e pelo que viria. Por ter acabado com uma vida que nem havia começado. Por estar viva. Percebeu que bênçãos são bênçãos para quem as deseja. Maldições são maldições para quem as roga.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um homem precisa viajar...



"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.

Amyr Klink

domingo, 3 de outubro de 2010

Alice...


Alice nasceu no ano do dia internacional do beijo, que foi marcado pela guerra de um país azul e branco, que ela tanto sonha em visitar. No fim do mês das noivas. Em um dia par. Regida pela dualidade de um signo que tem estampado em sua pele. Veio ao mundo com dificuldade. Precisou de ajuda. Uma vez para nunca mais. Quando pequena gostava de prender os cabelos, todos os dias com um penteado diferente. O azul era sua cor e seus dias ficavam mais vivos com sua presença. Olhos grandes e arredondados. Tímidos confesso, mas encantadores. Sua pele branca combina com suas madeixas grossas aloiradas. Sua fascinação por aventuras lhe rendeu algumas cicatrizes, que a fazem lembrar de uma época em que não se pensava em acordar cedo e bater cartão. Foi criada sozinha. Não solitária, mas por ela mesma. Aprendeu a fazer amigos e a dançar como Ana Botafogo. Algumas vezes arriscou colocar as mãos por entre a lama para expressar seus sentimentos. Mais tarde entendeu que não há melhor maneira de fazê-lo senão com uma caneta e um papel. Cresceu. Em alguns anos desabrochou uma mulher-menina. Os cabelos mais claros e a pose de bailarina sempre ereta lhe davam mais segurança. Ah, Como poderia deixar de falar de seu sorriso. Sorria não somente com os lábios, mas com a alma e os olhos. Escancarava deixando mostrar seus dentes brancos e pequenos. Um dia ouviu de alguém que já não importa, que se seus olhos não brilhassem ao sorrir, este não era verdadeiro. Desde então seus olhos parecem dois faróis quando estica os lábios. E não é somente seu sorriso que é perceptível. Sua risada pode se fazer ouvir a metros de distância. Gosta do que ela é agora. Da pessoa que se transformou. Ela sabe o quanto foi difícil, mas mesmo assim o fez. Poucas pessoas passaram por transformações tão grandes em tão pouco tempo. Chorou algumas vezes quando viu seu anjo partir. Mas isso foi há muito tempo. Tempo esse em que a música fazia sentido. Deixou câncer a dominar e então consegue ver tudo por três lados. Não lamenta. Agradece. Todos os dias. Mas em alguns dias frios ela chora. Nos de sol acontece às vezes. Mas chora onde as lágrimas possam se misturar à água e rolar cano abaixo.
As unhas sempre vermelhas como se pudessem agarrar o mundo e não deixar o tempo escorrer por entre seus dedos. E ele passa tão rápido que nem o coelho consegue o alcançar mais. E tudo isso é muito estranho para ela que agora até usa relógio, para ver se ele a obedece. Mas ele não dá ouvidos aos seus pedidos e chamados urgentes. Então Alice procura aproveitá-lo da melhor maneira sempre quando pode. Vive. Como se cada dia fosse o último. Não sabe se será, então faz o seu melhor. Para deixar no mundo um pouquinho de sua doçura. Parte de seus pensamentos. Muitos de seus sorrisos e suas gargalhadas. Pois a única coisa que importa para ela é ser feliz!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Lá parte III

- Mãe, continua a história?
- Só até um de vocês dormir.
- Tá bom!
- Ebaaaaa!
- Se querem ouvir, os dois deitados e cobertos.
- Enzo coloca a meia, vai!
- Rico, deita para eu te cobrir.
- Onde foi que eu parei mesmo?
- Ele ia levar a moça do cabelo de trigo naquele lugar mãããe!
- Isso mesmo mãe! Você não lembra?!
- Lembro filho. É que vocês dois me deixam maluquinha!
- Bom, a Moça dos cabelos de trigo aceitou o convite para ver os dois mares. O criado pela natureza e os olhos do Moço que cura. Ele tinha os olhos iguais aos de vocês.
- A noite caiu e ela estava mais bonita do que nunca. As unhas vermelho escarlate contrastavam com sua pele branca. Usava um vestido verde quase da cor de seus olhos e eles pareciam brilhar mais ainda.
- O Moço que cura chegou no horário. Ela se atrasou um pouquinho. Ele não ligou muito. Até disse a ela que valera cada minuto.
- Mãe, é como nas histórias de conto de fadas. Ele não veio em um cavalo branco, mas tava de branco. Que nem o papai!
- Isso filho.
- Eles conversaram a noite toda como se já se conhecessem há tempos. Deram boas risadas, brincaram e depois caminharam lado a lado na beira do mar, apesar do frio. Ele percebeu que ela sentia a friagem e segurou em seus braços. Foi assim que eles deram seu primeiro beijo.
- Rapidamente o Moço que cura curou o coração da Moça dos cabelos de trigo. A cada dia ficavam mais juntos. Diferente dela e do Moço do coração de pedra. E quanto mais ficavam juntos mais vontade tinham de se ver.
- E é isso!
- Mãe, a história acabou?
- Não filho, ela ainda está acontecendo. E é por isso que eu tenho que parar por aqui. Porque não sei o que vai acontecer amanhã.
- Mãe, e o Moço do coração de pedra?
- Ah filho, ela nunca mais quis saber dele. O excluiu da vida dela, totalmente. Guardou tudo o que a fazia lembrar ele em uma caixinha preta e enterrou naquele lugar. Embaixo da árvore mais bonita com a esperança que ela florescesse e com as flores voltasse a dar vida àquele coração de pedra. Rezou para que um dia ele fosse feliz como ela era e que conseguisse ver os erros que cometeu. Para que se tornasse uma pessoa melhor e alegre.
- Ela nunca mais o viu?
- Não, Nunca! Mas um dia ela me contou que teve um sonho. Assim como tudo na vida dela, ela via as coisas nos sonhos. E no sonho ela o encontrava. Ele ainda era infeliz.
- Mãe, se ela sonhava com as coisas, porque ela não via as mentiras?
- Ela viu filho e foi por isso que acordou e foi embora. No sonho ela viu até os nomes. Ela sabia de tudo.
- Nossa mãe, esse Moço foi um bobo, né?!
- Foi sim filhote, mas o que importa é que a Moça dos cabelos de trigo é feliz como nunca foi.
- Ai mãe, que bom! Eu já gosto dela sem conhecer.
- É mesmo filho, por quê?
- Uma pessoa tão bonita, alegre e que traz tanta felicidade, não tem como não gostar.
- É filho, eu sempre gostei dela.
- Mãe, porque as pessoas fazem isso?
- Isso o que filho?
- Mentem, brigam, tratam as outras mal?
- Por que não tem amor no coração. São egoístas e só olham para si. Não sabem que quando você faz uma pessoa feliz você ganha felicidade em dobro.
- Mãe, eu te faço feliz?
- Mais que tudo! Desde o momento em que eu soube de você. Aliás, de vocês.
- Ouviu Rico, Nós fazemos a mamãe... Rico! Dessa vez foi você que dormiu!
- Eu tô escutando, só tô de olhos fechados. Pra descansar as pálpebras. Que foi? Verdade!
- Mãe, será que um dia eu posso conhecer essa sua amiga?
- Um dia eu a apresento para vocês, e vocês vão ver como ela é feliz com o Moço que cura.
- E eles voltaram para aquele lugar?
- Ainda não. No inverno eles vão ver a neve em um país que se fala enrolado.
- Ela já ia, ele decidiu ir com ela, só para não ficar longe de seu sorriso.
- Nossa mãe, que legal! E ela não vai ficar longe do mar!
- É filho, do mar!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Lá Parte II

- Enzo! Enrico! Vão escovar os dentes e já para a cama!
- Mas mãe!
- Nada de “mas”, eu to acabando de trocar a Alice e já vou cobrir vocês.
- Tá, mas a Tandy acabou!
- Não acabou nada filho, vá até o meu banheiro e pega a minha.
- Enzo, será que hoje a mãe conta de novo aquela história?
- Ah, Rico! Pede você, da última vez eu Dormi e ela ficou brava.
- Eu peço, mas não vale dormir no meio dessa vez.
- Pode deixar, eu nem tô com sono.
- Meninos! Já escovaram os dentes?
- Já sim mãe! E já deitamos, vem dar um beijo na gente!
- Boa noite pra vocês e tratem de dormir logo!
- Mããããããe!
- Fala Rico!
- Conta pra nós aquela história novamente? O Enzo promete que não vai dormir dessa vez.
- Ah, é? E se ele dormir eu posso acordar ele com um balde de água fria?
- Pode mãe! Eba! O Enzo vai tomar banho de água friaaaaa!
- É, mas como você que me pediu Rico, o finalzinho é seu!
- Ah, mãe! Assim não vale!
- Tá bom, eu vou contar, prestem atenção!
- Há algum tempo eu conheci uma garota. Sua pele era clara como o amanhecer e macia como algodão. As unhas sempre bem feitas pintadas de vermelho escarlate. Vocês já viram um campo de trigo?
- Não mãe, você já viu Enzo?
- Não que eu me lembre Rico.
- Então, imaginem um lugar todo dourado, onde o vento bate e os maços se movem de um lado para o outro. É lindo! E assim eram os cabelos dela. Dourados como um campo de trigo. Às vezes liso outras vezes ondulados. Variava conforme acordava, apesar de sempre ter bom humor.
Seus olhos pareciam duas esmeraldas. Tinha uma beleza que não parecia real. Era alegre e cativante. A personalidade forte e a sinceridade eram seus traços marcantes. As pessoas que se aproximavam dela não conseguiam ir embora rapidamente. Difícil falar dela sem a conhecer realmente. Ela é um daqueles casos que se você não conhece não tem uma idéia real do que ela é.
- Mãe, você conhece ela?
- Conheço sim. Não ouviu no início da história?
- Ouvi, mas ela é de verdade mesmo?
- É sim Enzo.
- Duvido que ela seja mais bonita que você!
- É mãe, outro dia no posto de gasolina eu ouvi o que aquele moço disse!
- É mesmo filho? E o que foi que ele falou?
- Que a senhora era tão bonita que até assustava!
- Eu também ouvi mãe e falei para o papai, quando nós voltamos lá ele fez cara feia para o moço e eu também!
- Ai meninos, vocês são impossíveis! E Deus me deu em dobro! Dois de uma vez!
- Conta mãe! Continua, vai que o Enzo dorme e eu vou ficar todo molhado.
- Tá. Então, ela era a alegria em pessoa. Seu sorriso iluminava os lugares em que passava. Um dia ela conheceu um moço. A princípio parecia divertido e gostar das mesmas coisas que ela. Algumas vezes a deixou triste e a fez desconfiar se ele era aquela pessoa que demonstrou no início. O tempo foi passando e ela pouco convivia com ele, mas gostava dele como se passassem horas juntos todos os dias. Mas por um golpe do destino ele foi para longe, e o que já era pouco passou a ser quase nada. E ele começou a demonstrar ser uma pessoa estranha, má, a fazia chorar sempre. Foi então que ela teve uma idéia. Conhecia aquele lugar e sabia o que ele poderia fazer por uma pessoa.
- Mãe, fala um pouquinho de lá pra gente?!
- Lá é um lugar mágico. As pessoas sentam na grama, fazem picknick, correm por entre as árvores.
- Até mães e pais?
- Até filho! Pessoas de todas as idades. Lá não tem isso de “você não tem mais idade pra fazer tal coisa”. Lá as pessoas aprendem a viver melhor, a resgatar a alegria perdida, a ser criança novamente. Porque ser criança é a melhor coisa do mundo. Mas lá você pode ter qualquer idade e ainda assim fazer tudo o que uma criança faz.
- Ai mãe, eu sempre quero voltar lá!
- Então, mas o moço sempre estava ocupado demais para ir para lá com ela, sempre dava uma desculpa. Ela percebia que com o passar do tempo ele piorava, tratava pior as pessoas a sua volta, a fazia chorar mais vezes, mentia para ela e a enganava. Não estava feliz com nada que ele comprava, sempre queria mais e mais.
- Ela foi perdendo alegria de viver, pouco sorria e quando estava com ele procurava alternativas para que ele se alegrasse. Mas como uma maldição, nada o que ela fazia o deixava melhor. Ele se irritava com sua risada, com seu jeito, com suas roupas, com a vida.
- Ela não entendia e a cada dia que passava se esforçava mais para que ele melhorasse. Até o dia que ela parou e percebeu que ela não era o problema. Por onde passava as pessoas se aproximavam dela. Até os animais ficavam contentes ao vê-la. Foi aí que descobriu que o problema era ele. Ele havia virado um homem com o coração de pedra. Uma pessoa que sentia prazer em enganar as outras, se aproveitava das situações, e isso a fazia sofrer muito.
- Mãe, você conheceu ele?
- Não filho, não conheci não. Sei dele pelo que ela conta.
- Que bom mãe! Ele devia ser feio, né?!
- É Enzo, ela dizia que ele era bonito, mas com o tempo e as maldades foi ficando feio.
- Ai mãe, por isso que você é tão linda, você é a mãe mais boa do mundo!
- Não é mais boa, é melhor!
- Tá mãe, pára de corrigir e conta!
-Enzo!
- Desculpinha!
- Um dia, no fim do outono, ela acordou ao seu lado e o viu amargo e rude como sempre e se perguntou o que ela ainda fazia a seu lado. Ela que era só alegria, que amava a vida e tudo o que ela podia proporcionar. Amava o sol, a chuva, o vento, o mar.
Levantou, cansou de todas suas mentiras, enganações, maldades. Cansou de chorar por algo que não mudaria nunca. Cansou de insistir para ele ir ao lugar que ela tanto queria lhe mostrar. Levantou e foi embora. Sem dizer uma palavra. Calada. Nenhuma frase faria sentido. Então virou as costas e foi ser feliz. Deixou-o e foi para o lugar, sozinha mesmo.
- Mãe, pode morar lá?
- Não filho, já disse que não pode. Mas quando as pessoas estão muito tristes e machucadas o dono de lá deixa a pessoa passar férias lá.
- Ah, então quando eu cair e você colocar band-aid e não melhorar eu também vou querer passar férias lá!
- Enzo, não é desse tipo de machucado que eu tô falando. Espero que você nunca se machuque a ponto de precisar passar férias lá.
- Ah mãe, mas por quê?
- Um dia você vai entender filho!
- Então, ela foi passar umas férias lá. Ficou alguns dias e voltou para casa. No caminho, quando estava quase chegando em casa, bateu o carro.
- Mãe, ela se machucou? Dessa parte eu não lembrava!
- Claro, você dormiu seu bobo!
- Bobo é você!
- Meninos! É a última vez que eu peço!
- Tá mãe, desculpa!
- Foi mal mãe!
- Bom, ela não se machucou muito, mas mesmo assim foi para o hospital. Sua cabeça tinha um corte e precisava de curativos.
- Ao chegar no hospital, um moço de branco veio atendê-la. Ela não sabia se ele era médico ou enfermeiro. Mesmo assim ele foi muito gentil com ela. Limpou e tratou de seus machucados. Ela não conseguia tirar os olhos de seus olhos. A fazia lembrar o mar daquele lugar. Foi quando percebeu que não podia mais ficar. Lembrou porque havia voltado e pediu para o moço a liberar. Era aniversário de sua irmã mais velha. O moço disse que não via problemas, ela já havia feito todos os exames e ela estava liberada.
Com um pulo da maca chegou ao chão. Limpou a roupa, colocou a mão no curativo e agradeceu ao moço com um de seus sorrisos. Ele estava Bobo de ver como uma moça machucada que acabara de sair de um acidente estava tão bonita e feliz.
A Moça dos cabelos de trigo saiu da sala e com um passo apertado se foi pelo longo corredor que marcava 2B em uma placa.
- No dia seguinte pela manhã, ao sair do banho, ouviu seu celular tocar. Correu até ele e o atendeu. Do outro lado uma voz familiar, mas ainda assim não conseguiu identificar quem era.
- Bom dia – disse ela – quem fala?
- É a moça que se acidentou ontem?
- Sim, sou eu. Pois não, quem quer falar?
- Eu sou o médico que fez os curativos em você. Estou te ligando para saber se você está bem!
- Nossa, não sabia que os médicos desse hospital eram tão atenciosos! Sim estou bem e o curativo está perfeito. Obrigada!
- Bem fico feliz em saber que fiz meu trabalho bem feito.
- Sim, muito mesmo.
- Sabe, você não está sentindo falta de nada?
- Vai me dizer que eu perdi um de meus parafusos em sua maca?
- Hum, seria bom! Assim eu teria a chance de colocá-los de volta e receber o sorriso mais lindo que já vi até hoje.
- Obrigada! Mas do que eu teria que sentir falta?
- Uma caderneta azul com um burrinho na frente.
- Nossa! Nem percebi! Acho que foi por causa da batida e pela correria.
- Estou com ela e gostaria de lhe devolver.
- Muito obrigada! Como eu faço para pegar? Você pode deixar na recepção do hospital para mim?
- E perder a chance de ver seu sorriso? Jamais!
- Então, não sei! Como fazemos?
- Bom, eu adoro o mar e olhar para ele e tudo mais. E conheço um lugar em que posso olhar para ele e ver o seu sorriso novamente.
- Eu também gosto do mar, mas onde fica esse lugar?
- Deixa eu te levar?
- Ok, você está com um bem meu muito precioso, não estou em condição de negar nada!
- Pela sua ficha já sei onde você mora, pode ser às 21 horas?
- Nossa o trabalho de investigação foi completo! Ok!
- Um bom médico faz o acompanhamento completo de seu paciente!
- Mãe! Ele já conhecia o lugar?
- É filho, parece que sim!
- Que massa mãe! E ele que levou ela lá!
- Foi filho, foi ele. Você viu? Ela querendo levar o moço do coração de pedra lá e o moço que cura a levou.
- Ai mãe, eu quero ser médico. Já queria por causa do papai, mas agora quero mais ainda!
- Rico, o que você quer ser quando crescer?
- Diferente de você! Não agüento mais olhar para você e me ver!
- Rico!
- É brincadeira mãe! Eu adoro ser igual ao Enzo! Dá pra aprontar mais e por a culpa nele! Brincadeirinha mãe!
- Ai, ai! Que bom que vocês gostam, porque eu amo vocês serem assim.
- Sempre foi o meu maior sonho!
- Bom, vou parar a história por aqui, amanhã eu continuo.
- Não mãe! Não!
- Nada de não, já é tarde e amanhã vocês dois têm que acordar cedo para ir à escola.
- Boa noite meus meninos! Amo vocês!
- Também te amamos mãe!
- Enzo!
- Fala Rico.
- Como será que acaba a história?
- Não sei Rico, mas eu sei que vai ter um final feliz, a Moça do cabelo de trigo merece!
- Boa noite, Enzo!
- Boa noite Rico!

sábado, 5 de junho de 2010

Lá Parte I


- Mãe, onde fica aquele lugar que você falou?
- Fica longe filho. Bem longe.
- Mas dá pra chegar de carro ou tem que ir de avião?
- A viagem demora tanto que você só chega se dormir. Tem que fechar os olhos e esperar chegar.
- Mãe, nas férias nós podemos ir até lá. Eu, você, o papai, o Enzo e a Alice?
- Só se você prometer pra mim que nunca vai esquecer que eu te levei lá.
- Tá bom mãe! Eu vou tirar muitas fotos e vou contar pra todo mundo que você me levou lá. Vai ser muito divertido.
- Tenho certeza que você vai gostar.
- Eu já gosto mãe. Adoro quando você fala de lá pra mim. Lá na escola eu contei pros meus amigos e eles disseram que era tudo mentira minha.
- Ah! Por isso você veio me pedir pra te levar lá. Você acha que eu tô mentindo.
- Não mãe, eu sempre acreditei em você. Não acredito nos meninos. Eu sei que lá é de verdade. E como você diz só quem faz coisas boas pode entrar.
- Isso mesmo. E lá quando você faz uma coisa boa o arco-íris aparece. Quando eu fui, ele parecia fazer parte do céu.
- Eu nunca vi um arco-íris.
- Lá tem o tempo todo. E quando chove as gotas caem e você fica todo brilhando. Parecendo um cristal.
- E molha?
- Molha sim filho, mas não faz não frio.
- E tem mar?
- Tem! As ondas são feitas de espuma, você sai todo ensaboado.
- Que legal mãe! E pode levar prancha? Será que o Enzo me empresta a dele.
- Claro filho! E quando você cai forma outra onda pra não deixar você se machucar.
- Queria morar lá. Pode?
- Não filho, não pode não.
- Por que mãe?
- Porque senão você não cresce.
- Mas eu não quero crescer mesmo. Não quero ter que trabalhar que nem o papai. Ele fica o dia todo fora. E também, quando você cresce você morre.
- Quem disse isso filho. Não é só quando cresce que morre, pode morrer em qualquer idade.
- Mas quando cresce morre mais. Mãe, lá as pessoas morrem?
- Não filho, lá ninguém morre. Só aprende a viver melhor e mais.
- E todo mundo conhece lá?
- Todo mundo já conheceu um dia. Mas muitas pessoas esquecem de lá.
- Por que mãe?
- Porque cresceram e vivem atrás de dinheiro e coisas materias e se esquecem dos lugares e das pessoas que amam. E quando vão ver já é tarde e nem se lembram mais de nada.
- Viu mãe, é por isso que eu não quero crescer. Não quero esquecer de lá nem das pessoas que eu amo.
- Não vai filho.
- Mãe, conta a história daquele homem. Conta pra eu nunca esquecer e nunca fazer
igual.
- Conto sim filho, mas amanhã. Já é tarde e você tem que dormir.
- Jura? Jura de coração?
- Juro filho.
- De verdade? Não vai fazer que nem o homem?
- Nunca filho. Nunca.
- Então tá bom. Boa noite mãe!
- Boa noite filho!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Hoje acordei sem lembrar se vivi ou se sonhei...


Hoje sonhei com você. Andávamos de mãos dadas e sorrindo. Muito. Por entre as gôndolas me escondia como costumava fazer. Você me achava. Como sempre. Eu sorria mais. Em uma lousa daquelas do tipo “mágica” me mostrou o que havia desenhado. Eu sorri mais uma vez, e o beijei. Você me abraçou como não fazia há tempo. Velhos tempos. Bons tempos. Foi engraçado porque te senti perto. Mais perto que o comum. Parecia de verdade. Parecia real. E então acordei. Sorrindo. Lembrando dos teus olhos da cor dos meus. Cara de sono. Pele branca.. Dos teus dedos longos. Da tua voz calma. Da tua risada engraçada. Lembrei de você espalmando depois do susto. De você me pegando no colo, me jogando na cama e fazendo cócegas. Lembrei de você querendo pegar no meu pé e eu não deixando. Dos bonecos nos dedos. E tudo mais. Tudo o que me fazia feliz. Do jeito que você insistia em me fazer feliz. Lembrei de um tempo que eu não sabia que iria sentir tantas saudades. Passei o dia sorrindo. A noite caiu e deixei escapar algumas lágrimas. Choveu para esconder as saudades. E vi as gotas se misturarem ao que se passou. Depois secou. Não aqui dentro. Lá fora. Senti um arrepio que me fez lembrar que era maio, quase junho. E não sei mais onde você está. O que faz, nem quem é. Mas sei que sinto falta. E ela dói. Não sempre. Mas hoje. Não sei se amanhã vai. Mas hoje doeu. E quis tudo de volta. Não para sempre, mas por hoje. Tudo o que sei que não vou mais ter.

segunda-feira, 22 de março de 2010

COVARDES!!!


Querido (a) Covarde! Parece que tem uma pessoa que está realmente incomodado (a) com minha postagem. Vc ainda não percebeu que não conseguirá nada com isso seu/sua trouxa! Não entende que você não faz parte do meu mundo e nunca entrará na minha vida? Tenho certeza que você é uma pessoa extremamente carente, mal-amada, solitária e lhe sobra tempo para fazer comentários ridículos. Não deve nem entender o que escrevo. Não sabe sequer a diferença entre HISTÓRIA e ESTÓRIA. Faz o seguinte, no Haiti estão precisando de voluntários para reconstruir o país. Caso não goste da idéia, tem o Chile também. Olha aí, já temos duas opções, quem sugere uma terceira? Ah, pode deixar que quando lançarem um ônibus espacial para a Lua eu faço uma postagem avisando, e pago a passagem. SÓ DE IDA!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Como diz um amigo meu...


A BELEZA DURA QUINZE MINUTOS E UM TÉDIO VISUAL.
Os belos que me desculpem, mas conteúdo é essencial.
Acho que é isso. Se eu estiver errada corrijam-me.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Lá Parte I

- Mãe, onde fica aquele lugar que você falou?
- Fica longe filho. Bem longe.
- Mas dá pra chegar de carro ou tem que ir de avião?
- A viagem demora tanto que você só chega se dormir. Tem que fechar os olhos e esperar chegar.
- Mãe, nas férias nós podemos ir até lá. Eu, você, o papai, o Enzo e a Alice?
- Só se você prometer pra mim que nunca vai esquecer que eu te levei lá.
- Tá bom mãe! Eu vou tirar muitas fotos e vou contar pra todo mundo que você me levou lá. Vai ser muito divertido.
- Tenho certeza que você vai gostar.
- Eu já gosto mãe. Adoro quando você fala de lá pra mim. Lá na escola eu contei pros meus amigos e eles disseram que era tudo mentira minha.
- Ah! Por isso você veio me pedir pra te levar lá. Você acha que eu tô mentindo.
- Não mãe, eu sempre acreditei em você. Não acredito nos meninos. Eu sei que lá é de verdade. E como você diz só quem faz coisas boas pode entrar.
- Isso mesmo. E lá quando você faz uma coisa boa o arco-íris aparece. Quando eu fui, ele parecia fazer parte do céu.
- Eu nunca vi um arco-íris.
- Lá tem o tempo todo. E quando chove as gotas caem e você fica todo brilhando. Parecendo um cristal.
- E molha?
- Molha sim filho, mas não faz não frio.
- E tem mar?
- Tem! As ondas são feitas de espuma, você sai todo ensaboado.
- Que legal mãe! E pode levar prancha? Será que o Enzo me empresta a dele.
- Claro filho! E quando você cai forma outra onda pra não deixar você se machucar.
- Queria morar lá. Pode?
- Não filho, não pode não.
- Por que mãe?
- Porque senão você não cresce.
- Mas eu não quero crescer mesmo. Não quero ter que trabalhar que nem o papai. Ele fica o dia todo fora. E também, quando você cresce você morre.
- Quem disse isso filho. Não é só quando cresce que morre, pode morrer em qualquer idade.
- Mas quando cresce morre mais. Mãe, lá as pessoas morrem?
- Não filho, lá ninguém morre. Só aprende a viver melhor e mais.
- E todo mundo conhece lá?
- Todo mundo já conheceu um dia. Mas muitas pessoas esquecem de lá.
- Por que mãe?
- Porque crescem, vivem atrás de dinheiro e coisas materiais e se esquecem dos lugares e das pessoas que amam. E quando vão ver já é tarde e nem se lembram de mais nada.
- Viu mãe, é por isso que eu não quero crescer. Não quero esquecer de lá nem das pessoas que eu amo.
- Não vai filho.
- Mãe, conta a história daquele homem. Conta pra eu nunca esquecer e nunca fazer
igual a ele!
- Conto sim filho, mas amanhã. Já é tarde e você tem que dormir.
- Jura mãe? Jura de coração?
- Juro filho.
- De verdade? Não vai fazer que nem o homem?
- Nunca filho. Nunca.
- Então tá bom. Boa noite mãe!
- Boa noite filho!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Novo Ano Novo

Alice viu o pôr do sol no ano novo chuvoso;
Colocou uma flor no cabelo;
Deixou no bolso de seu melhor amigo;
Viu pessoas chorar;
Fez alguém derramar lágrimas;
Chorou;
Viu um menino morrer vivo;
Viu outro o consolando;
Fez amigos novos;
Deixou de ligar para uns velhos;
Fez amor em frente a uma igreja;
Entrou na igreja;
Falou com Deus;
Perdoou seus pecados;
Esqueceu de alguém que não merecia ser lembrado;
Percebeu ter perdido muito tempo;
Prometeu nunca mais o fazer;
E viu um sorriso;
Apaixonou-se por ele;
Sentiu o gosto de cevada em outra boca;
Olhou o mar de perto, do alto e de longe;
Sentiu frio na barriga;
E muito calor;
Ficou despenteada;
E vermelha;
Deu risada;
Sorriu;
Novamente;
E mais uma vez;
E agora Alice é só sorrisos;
Podem-se ver as maçãs corar de tanta felicidade;
E os lábios molhados se separarem e darem lugar a alvidez de suas presas;
Os olhos chegam a fechar;
Mas tudo o que ela quer é eles bem abertos;
Para tudo enxergar.

Nada é permanente... Nem mesmo a morte.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lucky...


Estava um tempo mormacento. Tempo que dava para as crianças brincarem na beira da água. E Alice foi mais para o fundo, pra sentir a liberdade daquele lugar. Deitada em um bote, como se precisasse ser resgatada. Ele veio. Não estava de vermelho como um guarda-vidas, mas parecia querer lhe salvar. Uma lata com um símbolo verde na frente. Um sorriso largo. Óculos escondendo seu olhar. Seu sotaque o denunciava. Simpatizou. Em poucos minutos deu boas risadas. Como ela não fazia há tempos.
Agora o sol caía. Foram horas. Ela nem percebeu. Acho que ele também não. O mar estava calmo. Ouviu Lucky no final da tarde. Na matriz ele estava à sua espera. Uma rosa na mão. Ela desceu. Um pouco tímida. Lhe segurou e foram em direção à multidão. Pés na areia. Fogos no ar. Cogumelos no céu. Dançaram a noite toda. Ela um pouco tonta com todo aquele álcool. Ele sorrindo como se estivesse ouvindo mil piadas. Olhos fumegantes, dizia ele. Ela ria. Ele insistia em vê-la sorrindo. E continuava. A música pára. Ele não. Ela diz que tem que ir. Ele pára de sorrir. O sol já dava as caras. Ela se esconde dele por detrás das lentes. E quando acorda pensa que tudo foi um sonho. Lucky novamente. Não foi sonho. Dr. Mc Dream. Na hora da partida o telefone toca. Ele corre. A balsa parte. Ele acena de longe. Ela ouve um adeus triste. E a promessa de viver novamente um sonho.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

E quando digo que ele é sábio...


Paciência
-
Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados... Muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.
Por muito pouco a madame que parece uma lady solta palavrões e berros que lembram as antigas trabalhadoras do cais... E o bem comportado executivo? O cavalheiro se transforma numa besta selvagem no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar...
Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma mala sem alça. Aquela velha amiga uma alça sem mala, o emprego uma tortura, a escola uma chatice. O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.
Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado... Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais.Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus.
A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta.Pergunte para alguém, que você saiba que é ansioso demais onde ele quer chegar?Qual é a finalidade de sua vida? Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.
E você?Onde você quer chegar?Está correndo tanto para quê?Por quem?Seu coração vai agüentar?Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar? A empresa que você trabalha vai acabar?As pessoas que você ama vão parar?Será que você conseguiu ler até aqui?
Respire... Acalme-se...
O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência...
NÃO SOMOS SERES HUMANOS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL...SOMOS SERES ESPIRITUAIS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA HUMANA...
-
Arnaldo Jabor

domingo, 29 de novembro de 2009

Antes só...


Homens de dedos longos. Ao longo de minha vida conheci três. Todos com o mesmo brilho no olhar. olhos claros, de quem busca algo. Algo bom. Percebi que mãos podem dizer mais do que uma boca. Tanto quanto os olhos.
Dedos curtos. Mãos pequenas. Essas foram duas. Não quero uma terceira. Hoje sei o motivo pelo qual pianistas tem dedos longos. Se não os tem não servem para tocar. Sem sentimentos verdadeiros. Conheci um de dedos curtos e mãos pequenas que dedilhava. Não sentia nada. Por isso não serviu. Toca entre quatro paredes. Para ele. egoísta como suas mãos. Rude como um javali. Afasta pessoas como um porco selvagem. Entendi a expressão "pérolas aos porcos". Eu joguei. Duas vezes. Como as mãos. Hoje sei o que simboliza. Beleza não pode ser misturada à lavagem . Pérolas são pérolas. Agora entendo porquê um colar com elas não tem intersecções. São colocadas lado a lado. sem nada para separá-las. Ou em um pingente, para brilhar sozinha. Pois é. Antes só do que mal acompanhada.