sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Nem tudo que reluz é ouro.

Agia como uma estranha. Como podia se estava em território conhecido. Passaram-se apenas cinco anos e já havia esquecido onde ficavam as salas. Até parece que foi ontem. Na memória só lembranças boas. Algumas ruins, mas estas ela tentava esquecer. Como uma nuvem negra que se movimenta rapidamente para levar a tempestade.
Subia as escadas esbaforidamente. Por alguns instantes se sentiu como Alice correndo atrás do Coelho Branco. Mas fora ela que perdera o horário. Subia e descia, ia para a direita e voltava. Corria para a esquerda e não chegava a lugar algum. Não entendia como aquelas paredes haviam mudado tanto sem sair do lugar. Até as cores eram as mesmas. As rachadoras nas paredes. A cruz pregada com o homem de barba pregado de braços abertos e pés juntos era a mesma. As carteiras! Essas sim haviam sido trocadas. Mas era só. E ainda assim não conseguia achar o caminho.
Encontrou um buraco. Lá dentro uma imensidão negra. Olhou dentro. Deu um passo para trás. Pensou se seria conveniente entrar. Olhou mais uma vez. Então tomou coragem. Adentrou-o com passos leves e delicados para não ser notada, mas era impossível passar despercebida em algum lugar. Como um leopardo no meio da estação da Sé. Não podia voltar atrás. Desejava que estivesse sol para colocar seus óculos-escuros retrô e ficar invisível até sentar-se. Mas a noite havia caído há horas e ninguém entenderia o uso dele. Sentou na primeira cadeira que avistou fingindo não ser observada. O escuro perdurava e ela só conseguia enxergar a luz branca que vinha do retro projetor. Tentou se concentrar. As palavras iam e vinham sem fazer o menor sentido. Olhou para o lado e o viu. Por um minuto acreditou ser real. Então fechou os olhos e lembrou de suas doces palavras. Do cheiro infantil que vinha de sua boca. Dos dedos longos e trêmulos que seguravam a caneta, e desenhava bonecos em suas mãos. Da bala em formato de vida que ele dava a ela e ela presenteava a cachorra sem ele saber. Da chegada e da saída. Sempre juntos. Das brigas e dos beijos. Dos apelidos e das manhas. Das saudades que sentia da voz de monstro em seus ouvidos. Quando abriu os olhos percebera que tudo aquilo havia ido embora com a chuva fina que caíra molhando sues cabelos. Percebeu que os anos dourados não voltam. Mas que ela pode conservar o ouro dentro de seu coração.

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