terça-feira, 9 de setembro de 2008

Toc Toc Toc

E o toc toc do sapato com estampa de onça ecoava pelo corredor. As pernas bambas da vodka com energético tentavam seguir uma linha reta invisível, mas era impossível. O máximo que conseguia era dar dois passos retos e no terceiro já estava junto à parede.
Tentou colocar a chave na porta sem fazer barulho, tarefa inútil para ela que já estava escorada na maçaneta, como se não tivesse forças para ficar de pé. Abriu a porta, entrou e a fechou, virou a chave na fechadura e a tirou para guardar na bolsa. Com a mão fraca deixou cair o molho no chão fazendo menos barulho do que esperava mais do que queria. Atravessou a sala sem mesmo nem olhar para a cadela que se encontrava estirada no sofá abanado o rabo como um espanador de pó. Abriu lentamente a porta do quarto, ninguém. Só ela e o zumbido da música que retumbou a noite toda em seu ouvido. Fechou a porta e jogou a bolsa sobre a cama desarrumada de domingo. Demorou menos de um minuto para tirar a roupa que havia levado uma hora e vinte minutos para colocar. Colocou o pijama de amoras rosa e jogou-se na cama como quem se entrega aos braços de Morfeu. Na boca sentia o gosto da mistura de cigarros e tristeza. Uma azia se misturava com a saudade daquele brilho azul. Duas semanas, e o cheiro não saia de suas narinas. Não cansava de escutar a voz trêmula e a bronca tensa nos momentos de nervosismo que haviam passado juntos. Fazia o possível para esquecer, mas não conseguia. Pegou o celular e pensou em mandar uma mensagem, mas o que escreveria? Melhor não. Jogou o aparelho ao lado do travesseiro e tentou dormir. Nada aconteceu. Pensou em talvez ligar o computador e entrar na internet para ver se havia algo novo para ler, mas era muito cedo para isso e as letras se embaralhariam em sua frente. Colocou então a mão entre os seios, uma velha mania que tinha quando sentia seu coração bater acelerado, e adormeceu. Sonhou com a decepção e com o amor. Com a ternura e com a infidelidade. E então acordou, com a certeza que a segunda-feira havia chegado e que os céus trariam uma boa notícia.

2 comentários:

  1. daqui a pouco terei uma riva à minha altura...
    os textos estão ótimos, parabéns!

    Paula

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  2. Obrigada pelo elogio.
    Com isso não precisa se preocupar, nunca serei sua rival pq vc sabe o qto te admiro.
    Bjos

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SOMENTE PARA QUEM TEM CORAGEM DE SE IDENTIFICAR... O MUNDO É CHEIO DE COVARDES!